A rua sempre teve um papel importante para o povo negro. O espaço público é vivido como uma arena, onde o cotidiano é um jogo difícil. A prostituta Sônia d’Mauriti sabia bem desta dificuldade e nos idos de 1950, na Favela do Esqueleto, numa conversa na comunidade com D’Bahia, falava à sua amiga a premissa que se faria realidade no futuro: “Olha o meu bebê D’Bahia”, dizia, “ele é muito esperto. Ele vai ser doutor!”. Em maio de 2018, Carlos Alberto Ivanir dos Santos defendia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS/UFRJ – a sua tese de doutoramento. Tanto esta como a sua central liderança da “Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa” marcou a cidade do Rio de Janeiro como um lugar de debates sobre liberdade religiosa, intolerância religiosa e reterritorialização negra. Desta forma, se constitui o tripé que será a base de atuação da nossa personagem principal – a rua, a religião e a academia – e assim ao militante, religioso e político acrescenta-se o que foi anunciado por dona Sônia d’Mauriti, o título de doutor. Essa trajetória é marcada por subverter a ordem hegemônica estabelecida e colocar a comunidade negra na ordem do dia assim como a luta contra a intolerância religiosa que torna-se uma luta por direitos humanos, diferenciado-se da luta circunscrita à acusação moral e resolvida de forma particularizada.
A cidade e o guerreiro: a luta pela liberdade religiosa do Babalawo Ivanir dos Santos – 1950 – 2018
Érika Pinheiro