A cor da beleza: pigmentocracias, privilégio e práticas estéticas em Portugal

Chiara Pussetti

Baseada no trabalho de campo que realizei com pessoas que se identificam como mulheres negras em Portugal ao longo dos últimos cinco anos, esta apresentação explora rituais cosméticos e gestos estéticos como práticas performativas que possibilitam a renegociação da subjetividade e da corporeidade em relação às normas raciais e de género, desafiando o binarismo racial ‘preto-branco’. Inspirada pelas teorias de Shirley Anne Tate, irei evidenciar como os rituais de beleza das mulheres afrodescendentes podem ser compreendidos como processos criativos de adaptação aos circuitos locais e globais de representação, assim como estratégias de resistência às múltiplas formas de opressão e exclusão.
Ao apresentar as narrativas coletadas no trabalho de campo, irei discutir como as práticas de beleza não apenas envolvem questões de gosto e estilo, mas também se inserem em políticas de representação e relações de poder mais amplas. Essas práticas são profundamente atravessadas por dinâmicas de classe, género, idade e raça, revelando a complexidade das escolhas estéticas dessas mulheres.
Este texto contribui para os estudos sobre afrodescendência, género e estética ao problematizar a construção da beleza negra como um gesto de resistência e reinvenção identitária. Propõe-se a ‘descolonizar’, ‘depatologizar’ e ‘despsicologizar’ essas práticas de beleza, alinhando-se às discussões contemporâneas sobre subjetividade, raça e género, e ampliando a compreensão das maneiras como as mulheres negras reconfiguram suas identidades e seus corpos dentro de contextos pós-coloniais e racializados.