A promoção de saberes em afropersectivas: educação, relações étnico-raciais e embates ao epistemicídio

Elisabete Figueroa dos Santos

O racismo e a discriminação racial internalizados e participantes da cultura e da estrutura da sociedade brasileira, estão presentes e arraigados nas relações travadas dentro das instituições e relações educacionais e universitárias, de maneira a preterir historicamente pessoas negras, seus conhecimentos e realizações. Esse arranjo atua por meio do racismo epistêmico e na promoção do epistemicídio, isto é, da sistemática eliminação de ciências, tecnologias e inovações de africanos/as e seus/suas descendentes, de modo a colonizar os saberes e cooperar para o que se tem chamado fracasso ou insucesso escolar ou acadêmico de estudantes negros e negras, os/as quais não se vêem representados/as nos lugares tradicionais e prestigiados do saber. Por outro lado, observa-se a universalização, supra representação e valorização de corpos e saberes brancos, desigualdades estas, que são mantidas e naturalizadas pelo pacto da branquitude. Isto posto, neste relato, discute-se que referenciais negro-africanos têm sido incluídos nos processos de ensino dos diferentes cursos de graduação da UNICAMP, a partir de levantamento realizado por meio da aplicação de formulários digitais a estudantes ingressantes e concluintes em 2024, para saber que disciplinas, autores/as, professores/as, conteúdos, projetos etc. constam em seus cursos. Além disso, são apresentadas três iniciativas que buscam promover essas referências na graduação e pós graduação: I) o projeto de extensão voltado à imersão em territórios negros da cidade de Campinas; II) o Grupo de Estudos “Pensamento Negro em Psicologia e Educação” (NEGRES); e os percursos realizados em duas disciplinas específicas: “Estágio Supervisionado I e II” e “Histórias e Culturas Afrobrasileiras e Africanas”. Discute-se as experiências de promoção, por meio dessas iniciativas, de saberes afroperspectivistas nas formas de se produzir, veicular e disseminar conhecimentos na universidade, com vistas à descolonização de saberes legitimados no contexto acadêmico.