A representação das religiões de matriz africana nas produções da Companhia Negra de Revistas (Brasil, 1926-1927)

Jones Oliveira Mota

A Companhia Negra de Revistas, formada por artistas negros(as), surgiu no Rio de Janeiro na década de 1920 e tornou-se conhecida por introduzir elementos da cultura afro-brasileira no teatro de revista. Este estudo tem como foco a representação das religiões de matriz africana nas produções da Companhia, abordando a apropriação estética e exotização de práticas como o candomblé e a macumba. Personagens como o pai de santo e a mãe de santo foram retratados de maneira caricata, reforçando estereótipos raciais, ao mesmo tempo que expunham símbolos religiosos afro-brasileiros para o público (Barros, 2005). No entanto, esses elementos culturais também podem ser vistos como formas de resistência e afirmação identitária, trazendo à tona a religiosidade de matriz africana, mesmo que estilizada para o palco.
A análise dialoga com o conceito de mestiçagem e a relação entre o visível e o invisível nas tradições afro-brasileiras, ressaltando a presença de práticas culturais no teatro como um reflexo das tensões sociais e culturais da época (Lopes, 2019). Embora frequentemente superficializadas, as representações das divindades e rituais afro-brasileiros ajudaram a moldar o imaginário popular sobre essas religiões, mostrando a dualidade entre a exotização e a afirmação da identidade negra.
Relacionando-se ao tema do painel, a comunicação explora como a Companhia Negra de Revistas utilizou as religiões de matriz africana para questionar e, ao mesmo tempo, reforçar estereótipos sociais, evidenciando a complexidade da diáspora e a importância da ancestralidade no processo de resistência cultural (Barros, 2005; Lopes, 2019).
Referências:
BARROS, Orlando de. Corações de Chocolat. A história da Companhia Negra de Revistas (1926-1927). Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2005.
LOPES, Antonio Herculano. Do pesadelo negro ao sonho da perda da cor: relações interétnicas no teatro de revista. In: Anais do XXVIII Simpósio Nacional de História – ANPUH, 2019.