Nos últimos 15 anos o movimento decolonial, dentro do mundo acadêmico e das artes, permitiu uma aparente virada epistemológica e estética relevante, mas também tornou evidentes os interesses políticos e econômicos por trás dela. Em âmbito acadêmico na Europa a discrepância nos investimentos destinados à investigação e à produção cultural determinou um movimento de captura aonde Berlim – como já foi Paris – suga violentamente a excelência do Sul do mundo, como fizeram as políticas do Banco Mundial na década de 1980, e aproveita em loco de todo o surplus de valor criado por estes cérebros. No mundo das artes o crescimento de interesse por artistas não brancos determinou inicialmente um “des-branqueamento” (De-Whitening) e agora a uma indigenização do mercado das artes já que, nunca como agora, são os artistas não brancos a influenciar os valores do mercado. Estas ‘curadorias’ frequentemente reproduzem procedimentos euro-centrados ao assumir que um artista é global apenas na medida em que é “descoberto” por um curador, e reconhecido por uma instituição, Europeia. Da mesma forma nota-se a reprodução de modalidade subalternas e exotizantes de tratar estes criativos. O filme Dibujo para no olvidar” de Fredi Casco e Fernando Allen produzido pela Fondation Cartier pour l’art contemporain, retrata artistas das comunidades Ishir, Guaraní e Nivaclé na região do Gran Chaco, Paraguai. Uma senhora sentada no meio da terra diz: "Eu pedi para..[um homem] de me ensinar a desenhar porque ele ganhava dinheiro. Ele não quis. Aprendi copiando, observando. Agora sou uma artista. Desenho porque paga minhas contas.” O que sempre foi feito espontaneamente se transformou em comércio, tudo que é cultura vira lucro, o que é sacro torna-se público. E' claro o valor implícito de autodeterminação e afirmação de identidade, mas como conjugar expectativas e entendimentos tão variados?
CÍRCULOS ARTÍSTICO DE COLONIALIDADE
Laura Burocco