Esta comunicação tem como objetivo apresentar resultados desenvolvidos no âmbito do Projeto Enfermidades atlânticas: migrações, interseccionalidades e história digital: Doenças, gênero, mortalidade e trabalho em Cidades Negras (Luanda, Rio de Janeiro, Havana, Salvador, Recife, São Luís e Porto Alegre, c. 1790-1920) da FioCruz em parceria com a UERJ. A partir de anúncios de jornais, jornais médicos, registros de óbito, inventários post mortem, registro de trabalho de Santa Casa de Misericórdia da Bahia, Manuais médicos e de proprietários da primeira metade do século XIX, analisamos por entre as linhas das diferentes narrativas, as estratégias possíveis para meninas e mulheres africanas – livres ou escravizadas, africanas ou nascidas no Brasil – colocarem em práticas seus projetos, incluindo os de liberdade. Nosso interesse se encontra igualmente, em localizar resistências, redes de sociabilidade, letramentos, saberes ancestrais e construídos a partir da diáspora forçada, mas sobretudo, as complexidades das comunidades negras, escravizadas, libertas ou livres diante de doenças, formas de controle, expectativas de autonomia, mortalidade, tensões, harmonias, dores e tragédias. Para além da mortalidade infantil, diferentes moléstias como tuberculose, febres intermitentes, varíola, gastroenterites, se encontravam com maternidades interrompidas, partos que ocasionavam mortes e também violências sexuais e físicas que acometiam inúmeras mulheres. Fundamentais na reelaboração de culturas, rearranjos familiares e ressignificações de diferentes saberes, redes de proteção, vínculos afetivos e afetos, as mulheres e seus corpos se tornavam também espaços de intervenção de poder de senhores, feitores, médicos, principalmente no contexto de tráfico ilegal e promulgação das leis de 1831 e 1850.
Corpos femininos africanos: meninas e mulheres mães na escravidão e na liberdade.
Iamara da Silva Viana