Entre Saberes Unanimes e Saberes Críticos: O Lugar da Filosofia da Sagacidade na Pesquisa Social em África

Jessemusse Cacinda

Em 1927, Paul Radin escreveu um livro resultante das suas pesquisas com comunidades indigenas da América do Norte, intitulado Primitive Man as a Philosopher. No prefácio deste livro, John Dewey defendeu que o mesmo colocava em choque a ideia de que os costumes constituíam a fonte dos padrões morais que são automaticamente seguidos pelos membros das comunidades indígenas e evidenciava o papel da liberdade de expressão dos indivíduos e a sua responsabilidade moral na definição dos seus valores. Ironicamente, 18 anos depois, Placide Tempels, escreveu o livro La Philosophie Bantu, em que tenta demonstrar seguindo a tradição etnológica da época que no âmago da cultura bantu (africana) existia uma lógica e uma metafísica do ser. Tanto Radin (1927) como Tempels (1945) estudaram ideias em comunidades étnicas tradicionais, a diferença é que um, considerou a agência reflexiva dos seus entrevistados (Radin) enquanto o outro, tratou os seus entrevistados como meros informantes (Tempels), sublinhando o carácter unanimista das suas ideias. Este seria o ponto central da crítica de Paulin Hountondji (1976, 1994) e mais recentemente de Theophile Obenga (2013) aos etnólogos ocidentais que em seus textos apresentam as sociedades africanas como ingénuas, unânimes e acríticas. Como superação a esta representação, Odera Oruka (1991), criaria a filosofia da sagacidade, uma escola de pensamento cujas ideias são produzidos por pessoas consideradas sábias nas comunidades africanas. Esta escola Masolo (2016) destaca aqueles que procuram um fundamento racional para as ideias e conceitos que utilizam para descrever e ver o mundo, examinando criticamente a justificação dessas ideias e conceitos. Nesta apresentação, discute-se o espaço da filosofia da sagacidade na pesquisa social em África, apresentando-a como uma ferramenta epistemológica e pedagógica libertadora contra a reprodução de generalizações eurocêntricas sobre as comunidades africanas.
Palavras-chave: filosofia da sagacidade, pesquisa social, estudos africanos