Lusotropicalismo e educação: colonialismo, formação de professores e resistência no ultramar português (1964 – 1970)

Juçara da Silva Barbosa de Mello

Após a derrota de países fascistas europeus na Segunda Guerra Mundial, houve um esforço de ressignificar as relações de dominação dos países metropolitanos com suas colônias. Em Portugal, o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala (1933), passou a ser visto por escritores ligados a Salazar como um intelectual capaz de legitimar tal dominação nas práticas reformistas do estado português em relação aos territórios de ultramar. A guinada da ideologização de positivação intitulada de “democracia racial” correspondia à busca de sentido à existência de um império num mundo pós-guerra que tinha como valor a democracia e a liberdade. Além do caráter transnacional das obras de Freyre como forma de legitimar o colonialismo tardio dos portugueses na África e na Ásia, essa nova forma de interpretação das relações entre o português e os colonizados passava diretamente pela ideologização produzida pelo estado ditatorial de Salazar. Nessa perspectiva, esta comunicação tem como objetivo geral argumentar que o lusotropicalismo, doutrina que influenciou profundamente a ideologia colonial portuguesa, esteve em correspondência com a ideia de democracia racial no Brasil, permitindo-nos refletir sobre os impactos derivados de sua obra na história escolar no Brasil, em Portugal e nas então Províncias do Ultramar. Como objetivo específico intentamos identificar, por meio da análise de documentação da Divisão Geral de Ensino do Ministério do Ultramar, possível influência do pensamento lusotropical no projeto de educação português relacionando a documentação sobre a formação de professores com a entrevista realizada pela pesquisadora Cláudia Castelo (2010) com o ex Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, personagem relevante para compreender a influência das ideias de Gilberto Freyre no meio acadêmico, a fim de contrastar os conceitos do sociólogo com exemplos apresentados nas fontes, revelando situações de resistência ao projeto educacional imposto pelo Estado português em fins de 1960 e início de 1970.