MEMÓRIA E IMAGINÁRIO AFRO NA ARGENTINA DO SÉCULO XIX ATRAVÉS DOS ÓCULOS DOS VIAJANTES EUROPEUS. Identidades, racialização e representações.

Diego Buffa

No final do período colonial hispânico na América, começou um período turbulento para as nascentes nações independentes. Estas lutas entre o tradicional e o moderno não foram travadas apenas no espaço material, mas também -e especialmente aí- no espaço intelectual.
As elites dominantes uma identidade imaginária foi construída de acordo com suas necessidades. No caso da Argentina, este discurso tentou homogeneizar a sociedade, escondendo ou negando a presença de africanos e seus descendentes. No entanto, esses povos existiam e participavam da vida política, econômica e social da época. Essa presença foi relatada por viajantes que visitaram Buenos Aires durante o século XIX e que deixaram algum tipo de registro, seja ele literário ou pictórico, que serviu às classes dominantes, tanto políticas ou intelectuais, para cimentar a sua posição ideológica enraizada nesta “nova forma de olhar” o mundo que a Europa propõe. O eurocentrismo adquire dimensões científicas, descreve-se e cataloga-se o mundo, os seus seres vivos, incluindo aqueles “Outros”, que são o retardamento da modernidade.
Muitos desses viajantes deixaram registros visuais por meio de pinturas e desenhos que eles próprios fizeram de determinadas cenas, o que nos permite observar setores subalternizados, principalmente os afrodescendentes, em suas atividades cotidianas. Esses viajantes retratavam principalmente a sociedade que vivia nos centros urbanos mais importantes, como Buenos Aires. É por isso que neste trabalho nos concentramos nas narrativas e na iconografia deixadas pelos viajantes que visitaram Buenos Aires durante o século XIX, analisando como retratavam os africanos e seus descendentes.
Nossa intenção neste exposição é apontar que, apesar das diferenças e especificidades individuais, havia nesses viajantes um arcabouço ideológico comum que os levou a destacar determinados elementos que alimentaram o discurso oficial das classes dominantes locais.