Saúde em África – Balanços e perspetivas sobre as epistesmes face ao futuro(s).

Jorge Varanda

Aparentemente a epidemia de COVID-19 acelerou a transformação no campo Saúde Global para abertura a perspetivas supostamente holísticas como a ‘One Health’ ou para a integração de outras epistemologias. Um olhar atento mostra que esta transformação se deve em grande parte à epidemia de VIH-SIDA. Partindo de estudos sobre a emergência do VIHs (HIV-1 e HIV-2) esta apresentação pretende refletir sobre a necessidade de outras epistemes e de novos diálogos para discutir-se outros futuro(s) na Saúde Global.
A Biomedicina foi central para os processos coloniais. Nesta ‘experiência’ foi criado um largo espetro de doenças tropicais, moldou-se a região e as relações com/entre e não-humanos. A biomedicina com as independências é reforçada, dominando narrativas e sendo a episteme para definir políticas nas novas capitais. Na passagem do milénio as grandes iniciativas e os novos atores continuam a replicar olhares e receitas top-down. Muitas doenças ‘coloniais’ são repensadas e integradas em novas construções como Doenças Negligenciadas Tropicais enquanto outras, como cancro, só recentemente começaram a ser incorporadas na Saúde global.
Esta proposta tem como objetivo refletir este século de Biomedicina em África, consideram perspetivas do de-colonial da saúde global e da viragem ontológica para gerar sinergias e pistas para novos roteiros sobre o papel futuro dos vários conhecimentos. A ideia que a antropologia contribuirá equitativa no campo da Saúde Global não deve ser aceitar tacitamente, pois como a própria alerta há que considerar contexto e elementos estruturais que moldam as politicas e práticas da saúde cada vez mais big data e digitais.