As encantarias montaram corte em São Paulo: um estudo sobre o processo migratório dos encantados do Pará a São Paulo

Yasmin Estrela

Este estudo tem por objetivo apresentar uma categoria de entidades denominadas "encantados", que não passaram pelo processo de morte, se "encantaram" sendo popularmente cultuadas no tambor de mina, religião de matriz africana tradicional do Maranhão e do Pará. O foco da pesquisa encontra-se no estudo de três terreiros localizados na cidade de São Paulo onde o culto dos encantados foi trazido pelo paraense Francelino de Shapanan e implantado na capital. Os terreiros escolhidos para este trabalho são: Casa das Minas de Thoya Jarina, que pertencia ao Pai Francelino e foi herdado por Marcio Adriano. O Kwê Mina Odan Axé Boço Dá-Hô, liderado por Sandra de Xadantã e o Bou Hot Mina Jeje Nagô liderado por Leonardo Doçu. Estas três lideranças são os descentes diretos de Francelino de Shapanan. Dentro deste estudo buscou-se compreender o processo de migração destas entidades de um contexto amazônico para a cidade de São Paulo, uma metrópole no sudeste do Brasil com uma dinâmica cultural e religiosa completamente diferente no qual prevalecem os terreiros de candomblé, sobretudo ketu. Com isso, o tambor de mina se estabelece em São Paulo trazendo elementos da cultura paraense e sua categoria de entidades que transitam e "brincam" com categorias como vida e morte, tempo e espaço geográfico. Além da não morte, eles possuem um passado distante mas estão vivos no nosso tempo e transitam em nosso espaço através da incorporação em seus "cavalos", como são denominados os médiuns que os recebem, e sua morada não possui localidade exata, tendo como princípio ser "acima das nuvens e abaixo dos céus". Com isso, os encantados ainda trazem a principal característica da ancestralidade africana: o princípio da continuidade ultrapassando até mesmo os limites da morte.