Religiosidade e resistências: os arquétipos das Yabás e o enfrentamento a violência contra a mulher em Círculos Sagrados

Aline Maron Setenta

Apesar dos avanços legais no campo do enfrentamento a violência contra a mulher no Brasil, as atuais estatísticas apresentam altos índices de violência que atinge principalmente mulheres negras e pobres. Considerando que, apesar da importância dos meios de repressão e política pública estabelecida no âmbito da Lei Maria da Penha, a desigualdade de gênero no Brasil é profunda e estrutural. A prevenção pressupõe desafios de ordem social, cultural e política, especialmente a dimensão cultural da violência de gênero e o papel das religiões no processo de legitimação e naturalização das violências reproduzidas pelo próprio Estado após o avanço da extrema direita. Nessa perspectiva se destaca no Brasil um movimento místico de caráter feminista denominado Círculo de Mulheres que propõe o agrupamento de mulheres mediante ritualísticas variadas, para uma conexão com um "Sagrado" que foge a estrutura patriarcal cristã do Deus homem, através dos arquétipos das Deusas ao longo da história. Entretanto, esses espaços tendem a reproduzir uma visão colonial, eurocêntrica e branca ao ignorar as figuras arquetípicas das Deusas, que na perspectiva brasileira integram as matrizes religiosas africanas e indígenas. A partir dos registros do inconsciente coletivo e das opressões das mulheres brasileiras especialmente as indígenas e negras que foram estupradas, escravizadas e silenciadas, a inclusão das Yabás nesse panteão arquetípico é necessário para que esses espaços não reproduzam uma visão colonial essencialista, racista de um sagrado relacionado as mulheres brancas. Os arquétipos das Yabás, Yaras dentre outras, e o reconhecimento dessas ancestralidades de um feminino de resistência na conformação do misticismo no Brasil são fundamentais em razão das mitologias e itâs que descrevem as opressões e construção de resistências que tem ressonância nos relatos das violências atualmente perpetradas contra seus corpos. Assim, a identificação desses arquétipos com o sagrado constitui uma forma de enfrentamento cultural as opressões de gênero.