A literatura no espaço linguístico-cultural: o contributo para a edificação da Lusofonia

Paulo Figueira

Pretendemos refletir sobre o papel da literatura lusófona na construção da ligação entre os países da Lusofonia, tomando como exemplos obras de autores angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos.
A África lusófona, no pós-independência, é marcada por rumos distintos, em que o português não se privou do contributo da unidade nacional e diálogo internacional, que também se edificou com a herança de ligações a diferentes geografias lusófonas.
Com os exemplos de Eduardo White (Janela para Oriente e Dormir com Deus e um Navio na Língua), Mia Couto (“Miudádivas, Pensatempos”), Ondjaki (Os Transparentes), José Eduardo Agualusa (Rainha Ginga) e Henrique Teixeira de Sousa (Entre Duas Bandeiras), propomos pensar o português na literatura numa perspetiva lusófona, ou seja, dos falantes da língua de Luso, pois referimo-nos a uma língua de milhões de pessoas, de diferentes origens étnico-culturais.
Pela inerência da pluralidade, tolerância, desenvolvimento e paz, o português, marca da(s) lusofonia(s) e também língua africana, é um importante veículo de comunicação e reunião de populações intra e extramuros, pelo facto “de ela [a língua portuguesa] hoje ser um património comum a mais de 240 milhões de falantes espalhados pelos quatro cantos do mundo como um potencial de desenvolvimento, de crescimento, de aproximação, de partilha, de paz e de cooperação” (Veloso, 2020: 156).
Não será um acaso o sentimento de ligação entre brasileiros, cabo-verdianos, são-tomenses, guineenses, angolanos, moçambicanos, timorenses e portugueses. Um diálogo irmão que faz com que os lusófonos possam, oficiosamente, pertencer a uma grande comunidade, cujos elos se estabelecem "mais além" do que a partilha da língua. Na nossa ótica, a literatura insere-se nesse “mais além”, onde é um contributo considerado, porque “[o] futuro da língua portuguesa também vai depender da sua capacidade de rentabilizar o valor da sua extensão geográfica e o seu lugar na vida moderna” (Oliveira, 2020: 64).