A desconstrução das memórias no romance Os Pretos de Pousaflores (2011) numa perspetiva pós-colonial

Peilin Yu

No seu romance de estreia Os Pretos de Pousaflores (2011), Aida Gomes constrói uma amálgama mnemônica que atravessa, a nível espacial, Angola e Portugal, enquanto na dimensão temporal, de forma transversal, perpassa vários momentos, incluindo o período colonial, a independência nacional de Angola e a pós-revolução portuguesa. As personagens, mal preparadas, são lançadas nesta viragem histórica, marcada por deslocamentos, bifurcações e agitações em todos os sentidos. Neste contexto, as memórias individuais assumem características semelhantes, tornando-se uma matéria polifónica, polissémica e multifacetada, essencial para compreendermos e abordarmos várias questões não resolvidas ou ainda latentes que essa época histórica particular legou às gerações presentes e futuras. É precisamente neste sentido que este trabalho propõe uma análise das diferentes vozes mnemônicas inscritas no romance, a partir de uma perspetiva pós-colonial, visando questionar problemáticas como as violências de gênero, o saudosismo dos colonizadores e a desilusão enfrentada pela comunidade afrodescendente na sociedade europeia.