Estética da Morte e Transcendência em Choriro

Iamara Nepomuceno

No romance Choriro (2009) de Ungulani Ba Ka Khosa, a morte é um processo de transformação social, política e espiritual, mais que um evento físico. Nesta narrativa, ela ganha sentido simbólico de continuidade e ruptura sociopolítica, passa a refletir um profundo elo com a ancestralidade e o poder no Vale do Zambeze. Neste trabalho, analiso Choriro à luz da "estética da morte", destacando como a obra a utiliza para narrar conflitos, dinâmicas históricas e sociopolíticas da região. Neste romance, há a recuperação de vozes marginalizadas que ajudam a reconstituir a história do Vale do Zambeze, a qual esteve frequentemente ofuscada pela narrativa da luta pela independência. A morte do mambo Nhabezi pode ser entendida como ruptura, pois inicia uma série de rituais de luto e reflexões políticas, que perpassam valores africanos tradicionais e a realidade colonial; assim, ela se torna símbolo da conexão entre o espiritual e o político, apresentando valorosos aspectos históricos. O Choriro diz respeito às cerimônias de luto que, no caso do romance, são realizadas pelas seis esposas do mambo Nhabezi, cuja evocação remete à tradição mpondoro, na qual, o falecido se transforma em espírito protetor ancestral. Nesse momento, a transmutação molda o futuro da comunidade, também simboliza a preservação das identidades africanas frente ao colonialismo. Além disso, a morte em Choriro é metáfora para a violência colonial e o impacto do tráfico de escravos no século XIX. Khosa retrata a violência física e simbólica do Vale do Zambeze, articulando a morte como testemunho da destruição causada pelo colonialismo e pela guerra, mas também como forma de resistência e preservação da memória. Khosa revisita a história do Vale do Zambeze pela Literatura, o que enriquece a compreensão dos processos sociopolíticos moçambicanos sob novos ângulos. O romance oferece uma reflexão profunda sobre heranças coloniais e caminhos de resistência