Esta proposta de comunicação propõe abordar os contatos entre instituições científicas e médicos tropicalistas do Brasil e de Portugal durante as décadas de 1960 e 1970 a partir de dois eixos temáticos: 1. Os debates sobre medicina tropical e tropicologia promovidos pela Associação Médica de Língua Portuguesa (AMELPO) – associação criada em 1964 para promover o intercâmbio médico luso-brasileiro, cujos trabalhos foram veiculados por dois periódicos: o “Jornal Brasileiro de Medicina” e “O Médico” – 2. O envio de doses de vacina antiamarílica, produzidas nos laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, para o Instituto de Medicina Tropical de Lisboa a fim de que fossem aplicadas em colonos portugueses com destino à África e nas campanhas de vacinação para controlar a febre amarela nas colônias portuguesas. O contexto histórico em questão ficou marcado pelas guerras de independência em Angola, Guiné e Moçambique, pelas crescentes pressões internacionais para que Portugal reconhecesse o direito à autodeterminação de suas colônias e pelas hesitações do apoio oficial do governo brasileiro à política ultramarina defendida por Lisboa. A partir de um conjunto diversificado de fontes – como documentos diplomáticos, periódicos médicos, relatórios sanitários e registros de produção e movimento de vacinas – disponível em arquivos brasileiros e portugueses, pretende-se aqui compreender como os contatos médicos entre os dois países foram usados para promover no Brasil o colonialismo português praticado em África, o que interessava à ditatura salazarista/marcelista, mas também perceber se esses mesmos contatos atuaram para promover a influência do Brasil no continente africano, o que atendia aos interesses de vários setores da sociedade brasileira.
Medicina na Fraternidade: política e medicina tropical nas relações Brasil-Portugal em tempos de descolonização na África, décadas de 1960-70
Ewerton Luiz Figueiredo Moura da Silva