O exilio forçado das mulheres de Ngungunhane, rei de Gaza (Moçambique), na ilha de São Tomé (1896-1911)

Gerhard Seibert

Em 28 dezembro de 1895 Ngungunhane (c.1850-1906), desde 1884 rei de Gaza, foi capturado na sua residência em Chaimite por tropas coloniais portuguesas chefiadas pelo oficial da cavalaria Mouzinho de Albuquerque (1855-1902). Em 13 de janeiro de 1896, Ngungunghane e a sua comitiva de catorze pessoas, entre as quais as suas sete mulheres Namatuco, Machacha, Patihina, Chlézipe, Fussi, Muzamusse and Dabondi, foram deportados de barco para Lisboa onde chegaram a 13 de março. Até 22 de junho todos os prisioneiros foram detidos no Forte Monsanto em Lisboa. No dia seguinte, Ngungunhane que se recusou de escolher entre as suas sete mulheres uma para o acompanhar para o exílio, foi deportado junto com três companheiros para os Açores, onde falecerá em 1906. Separadas do seu marido, em 6 de julho, os portugueses deportaram as sete mulheres do Ngungunhane, três outras mulheres e o jovem cozinheiro para a ilha de São Tomé, a segunda diáspora africana do Atlântico. Naquela época as plantações da ilha eram destino de milhares de trabalhadores forçados de Angola, Moçambique e Cabo Verde. Somente em agosto de 1911, cinco das mulheres, agora batizadas com nomes católicos, foram repatriadas para Gaza. As outras morreram em São Tomé. Esta comunicação pretende disponibilizar alguns dados e informações sobre este trágico capítulo pouco conhecido da história do Atlântico, na viragem do século XIX para o século XX.