Partos nas senzalas: nascimentos e cultura afrodescendente entre mulheres centro-africanas e descendentes escravizadas no Sudeste cafeeiro (1830-1888)

LORENA TELLES

A partir de relatos de viajantes, de obras de memorialistas, de manuais de fazendeiros e de textos de autoria de médicos, o objetivo desta comunicação será delinear as vivências do parto entre mulheres africanas e suas descendentes, nas fazendas cafeeiras do Sudeste brasileiro ao longo do século XIX. Assim como as mulheres escravizadas nas propriedades rurais para exportação no Caribe e no sul dos Estados Unidos, nas fazendas cafeeiras do Vale do Paraíba e do Oeste Paulista, no Sudeste brasileiro, mulheres africanas, embarcadas majoritariamente nos portos congo-angolanos, e suas descendentes, enfrentaram a gravidez, o parto, a amamentação e a criação de suas filhas e filhos em meio às adversidades de um cotidiano marcado pelas violências da escravidão e pelas sobrecargas do trabalho nas lavouras para exportação e nas residências senhoriais. Nas médias e grandes fazendas cafeeiras, que reuniam entre 40 a mais de 200 pessoas cativas, mulheres centro-africanas e suas descendentes viveram o processo de nascimento de suas filhas e filhos nas senzalas, moradias dos escravizados, sob a assistência de parteiras de suas comunidades. Nesta comunicação, enfocaremos os conhecimentos e visões de mundo que conformaram as práticas nos partos entre africanas e descendentes nas fazendas, e os confrontos com a paulatina entrada dos médicos na cena dos nascimentos ao longo do século XIX.