jovens e violência urbana: um olhar contra-colonial sobre o caso cabo-verdiano

Redy Wilson Lima

A cidade da Praia, na República de Cabo Verde, viu emergir nos anos de 2000 um nível de violência sem precedentes na história do país independente, que coincidiu com três fenómenos que se relacionam: a transformação do arquipélago num hub de tráfico internacional de cocaína; o aumento da deportação de jovens cabo-verdianos dos EUA; o surgimento de uma nova figura urbana juvenil denominado thugs. Ainda que a realidade de grupos juvenis com caraterísticas de gangues de rua não sejam uma novidade na Praia, a inovação introduzida pelos thugs em comparação com os grupos anteriores foi a existência de uma influência e linguagem mais global, maior acessibilidade de armas de fogo, oposição armada entre grupos rivais e demarcação entre bairros amigos e inimigos. A resposta governamental foi musculada e repressiva, sem que tenha, no entanto, reduzido o número das ocorrências criminais, o que só veio acontecer em 2017, mas com um novo aumento a partir de 2021. Esta comunicação, que tem como suporte uma pesquisa etnográfica de longa duração no seio dos grupos de jovens armados da Praia, visa, por um lado, problematizar sobre o fenómeno da criminalidade juvenil e, por outro, apresentar um quadro analítico alternativo de explicação da violência urbana em Cabo Verde.