O presente trabalho apresenta os dados iniciais de pesquisa acerca da “rede miúda” do tráfico transatlântico de escravizados africanos para o Brasil, em particular, Pernambuco no século XIX, manejando um leque diversificado de fontes. Por ora, demostro fragmentos de trajetórias individuais e coletivas –de sujeitos sociais que fizeram a travessia ao sul do Atlântico negro, escrutinados nos registros de compra e venda de cativos e impostos de meia Siza, entre as décadas de 1820 a 1870, contidos nos livros de notas do Cartório do 2º Ofício do Recife – Paulo Guerra e 4º Tabelionato Josaphat Albuquerque e Instituto. A historiografia brasileira já mostrou diversos caminhos para cotejar as experiências escravizadas a partir dessa documentação, apontando para as ocupações, os arranjos familiares, a faixa etária, o gênero, o trânsito do indivíduo no trabalho escravo, o valor de comércio dos cativos. Todavia, outros desvios podem ser feitos, a partir da análise densa das fontes e investigação onomástica de indivíduos, para observarmos as experiências cativas como a moradia, a elaboração da identidade etnia, o perfil dos vendedores e comprados, pedaços de vidas cativas, união e separação de parentes, o letramento de escravizados quando assinavam a rogo de seus proprietários e os fluxos desse comércio infame. A despeito disto, cogito, ainda, a continuidade do tráfico transatlântico, após a Lei de 04 de setembro de 1850, conhecida como Lei Eusébio de Queiroz, que decretou oficialmente o fim do tráfico atlântico de escravizados, que foi maquiado pela circularidade de escravizados via comércio interprovincial. No Brasil, as companhias de comércio de províncias, como Rio de Janeiro, Alagoas e Pernambuco intercruzaram mares, sertões, portos e praias entre a costa da África e aquela Nação, fortalecendo o trânsito de cativos internamente, nutrindo esforços para a continuidade da engenharia da escravidão no no Mundo Atlântico.
Na barganha! Comércio ilícito de africanos entre o Atlântico e as províncias brasileiras: Pernambuco (séc. XIX)
Valéria Costa