Essa comunicação compõe parte da pesquisa de doutorado iniciada no ano de 2023, que tem como
objetivo analisar o ecossistema intelectual de autores que produziram conhecimento sobre
raça e colonização em Portugal na segunda metade do século XIX. Esse universo era
composto por médicos, militares, geógrafos, historiadores, teólogos, dentre outros. Esses
intelectuais escreviam de Portugal a partir de referências produzidas sobre o continente
africano, como livros de viajantes e missionários, ou a partir da experiência nas colônias,
atuando enquanto médicos, militares e pesquisadores. Alguns autores pregavam que a tarefa
de colonizar seria uma forma de restaurar a glória de outrora dos homens portugueses a partir
da superação dos perigos que o ambiente apresentava, outros acreditavam que a África era
completamente nociva aos corpos europeus, rechaçando a ideia de uma colonização de
povoamento. Os povos que habitavam o continente africano eram classificados a partir da
métrica da diferença racial, mensurada e legitimada pelos pressupostos científicos do período,
atribuindo a eles características e graus de desenvolvimento diferenciados. A partir da leitura,
comparação e articulação de conceitos e referências presentes em uma diversidade de
documentos, procura-se trazer luz para as instituições, sujeitos e redes que possibilitaram que
esses textos fossem produzidos. O que se pretende é analisar as interlocuções, cruzamentos,
trocas e produção de saberes, e perceber como o discurso de inferioridade racial atribuída aos
povos africanos circulava em diferentes espaços de produção de conhecimento. Com isso,
contribuir para o debate de como o uso de teorias de hierarquias raciais foi usada para
justificar projetos de dominação no continente africano.
Ciência e colonialismo em Portugal e suas colônias: concepção e circulação de projetos de colonização
Diogo dos Santos Lessa