As relações entre a Ásia e África são antigas e deixaram marcas perenes, como comprova a presença do Islão em importantes áreas do continente.
Na segunda metade do século XX, o desmantelamento do edifício colonial contou com a solidariedade empenhada dos países asiáticos, que se motivaram pela luta dos povos colonizados. Além do apoio empenhado e solidário prestado na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde passaram cada a ter assento em número crescente, reivindicando a descolonização africana, alguns países asiáticos envolveram-se mais diretamente nas questões internas do continente: a República Popular da China, por exemplo, apoiou lutas armadas pela independência e processos de modernização; os países árabes, por seu lado, no contexto do conflito israelo-árabe procuram desde logo impedir este país de construir uma rede de apoios em África, o que conseguiram, e ampliar aí a sua influência religiosa junto das comunidades muçulmanas.
As circunstâncias internas dos países asiáticos e os seus próprios processos de desenvolvimento, limitaram nessa época, marcada pelo conflito Este-Oeste, a sua capacidade de projeção no continente africano, não deixando, no entanto, de a procurar.
A partir do início do milénio, a presença de atores asiáticos em África revelou-se dramaticamente através da rápida expansão da China e da Índia. A estes dois atores destacados, junta-se um conjunto de outros países que possuem uma pluralidade de objetivos e de estratégias que interessa conhecer. Por outro lado, importa igualmente identificar qual é o entendimento dos africanos sobre este renovado interesse, que objetivos prosseguem nesta relação e como constroem ativamente a sua interação com os atores asiáticos. A presente comunicação explorará a geopolítica dessas relações afro-asiáticas, visando mapear os principais espaços, atores, estratégias e objetivos envolvidos no diálogo entre os dois continentes.
Geopolítica das relações Afro-Asiáticas
Álvaro Nóbrega