Quando o Tratado de Berlim e os acordos que se lhe seguiram definiram as fronteiras de Moçambique, Portugal ocupava apenas alguns entrepostos no litoral e a maior parte do território constituía uma grande e aguerrida base de resistência à ocupação portuguesa. O mais intenso e organizado foco de resistência era o do Império de Gaza, com capital em Manjacaze, onde reinava o Gungunhana. A ocupação do território e a chamada “pacificação” de Moçambique, com a submissão pela força militar dos impérios e reinos tradicionais, desarticulou os focos de resistência, embora não tenha feito desaparecer os sentimentos de contornos nacionalistas, que se desenvolveram pelo ideário da I República.
O carácter repressivo do regime português, particularmente brutal e impune nas colónias, fez com que as principais organizações de inspiração nacionalista, tenham nascido por iniciativa de moçambicanos imigrados nos países vizinhos. A FRELIMO resultou da união dessas organizações. Esta, deu início à luta armada em Setembro de 1964.
Foi forte e massiva a adesão ao projecto da FRELIMO entre 1974 e 1975, antes e após a independência. Esse ambiente iria ser alterado, pois a FRELIMO, ao querer mudar o discurso do colonizador, falhou e foi começando a ser cada vez mais questionada, desembocando este descontentamento na guerra civil, que tanto fragilizou Moçambique. Esta coloca o problema da sua caracterização, algo complexa, por ser difícil estabelecer a separação entre uma guerra de agressão alimentada por países vizinhos e uma guerra civil que opunha a FRELIMO à RENAMO.
Para Carolyn Nordstrom (1997), as guerras são muitas vezes apresentadas como tendo antecedentes históricos e reproduzindo hábitos culturais. E se a guerra é um fenómeno cultural, muitas das estratégias que estiveram na base da guerra civil em Moçambique, incluindo as culturas de resistência à violência e à opressão podem muito bem ser encontradas nos conflitos passados.
Guerra e Violência em Moçambique
Maria Arnaldo Copeto