O Segundo Festival Mundial de Artes e Cultura Negras e Africanas (FESTAC’77) foi um festival cultural internacional de dimensões olímpicas, realizado em Lagos, na Nigéria, de 15 de janeiro a 12 de fevereiro de 1977, reunindo artistas e intelectuais de todos os países africanos independentes e de diversos espaços da Diáspora nas Américas e na Europa. Para muitos regimes africanos, o FESTAC’77 era uma oportunidade de demonstrar a vitalidade e a força de suas riquezas culturais, tanto em formas “tradicionais” quanto “modernas”, para amplas audiências de todas as partes da África e do resto do mundo, por meio de transmissões de TV via satélite, do rádio e da cobertura da imprensa escrita. Inevitavelmente, o festival também evidenciava o contraste entre os resultados concretos das políticas culturais promovidas pelos diferentes países africanos independentes, incentivando o debate público sobre essas políticas, bem como sobre a natureza e o desenvolvimento da cultura nacional – debates esses que se entrelaçavam a questões mais abrangentes sobre a condução e os rumos do Estado no pós-independência. Esta comunicação apresenta os resultados preliminares de uma pesquisa acerca da cobertura da imprensa escrita queniana sobre o FESTAC’77. Com base em matérias publicadas nos diários The Nation e The Standard e no semanário The Weekly Review entre 1976 e 1978, procuro esboçar as posições públicas conflitantes que atravessaram a participação do Quênia no festival, incluindo a crise em torno dos “expatriados” e a luta para “africanizar” as instituições nacionais nos campos da cultura e da educação superior, a direção geral da política cultural, o estabelecimento de uma narrativa nacional canônica sobre a luta de libertação, e os esforços para colocar as promessas não cumpridas da independência no centro do debate público.
Nação, cultura e raça: o Quênia e o FESTAC’77
Fábio Baqueiro Figueiredo