Abiã é início, aquele que aprende dentro do terreiro para nascer no axé, por isso é sempre acompanhado por aqueles que ensinam, os mais velhos no ilê. Nos terreiros de candomblé, a fala é tradição e a escuta obrigação. O abiã é aquele que chega do mundo, curioso, apreensivo. Abiã é quem está para nascer, quem se inclina a aprender; é a gestação, continuidade de egbe. Abiã é conduzido pela força atrativa do orixá. Abiã vêm ao barracão para aprender a desprender. Pesquisar o candomblé é se inserir numa cosmogonia na qual todos os sentidos são acionados para o sagrado. Nos terreiros de candomblé, aprende-se de corpo inteiro e os estudiosos não passam imunes a esse regramento. A proposta da pesquisa se tornou um espaço de memória repleto de rastros enunciadores de inquietações. Sentimos a ansiedade de quem retorna e não de quem chega. Desse (re) encontro engravidamos o estudo com a partilha do questionamento acerca do abiã e seu processo educativo e identitário no terreiro de axé. Em sede do painel “A diáspora africana e suas margens: ancestralidade, cultura e religiosidade no Brasil”, no XII Congresso Ibérico de Estudos Africanos, esse trabalho se inclina em apresentar os resultados da pesquisa realizada no Terreiro Aramefá Odé Ilê, terreiro de candomblé da nação Ketu situado na cidade de Teixeira de Freitas/BA. Nessa pesquisa, a ideia central foi entender como o abiã percebia o processo educativo envolvido na prática religiosa e como tais elementos circundaram a formação de uma identidade religiosa. No campo, as observações e as narrativas foram placenta alimentadora da investigação que repousa terna no útero do estudo do qual nasceu o vídeo-documentário: “O abiã e o terreiro”: https://www.youtube.com/watch?v=0C5I1xedkvM .
O abiã e o terreiro
NIKATIA DA SILVA