Este trabalho se propõe a analisar as representações de “África” presentes em processos de patrimonialização no Brasil de práticas corporais afro-brasileiras. Maior ênfase será dada aos processos de Registro do “Jongo no Sudeste”, do “Tambor de Crioula do Maranhão” e do duplo reconhecimento da Capoeira (“Ofício dos Mestres” e “Roda”). Estas três práticas foram patrimonializados em nível federal em 2005; 2007 e 2008, segundo ordem na qual foram citados anteriormente. Nos três casos, percebemos discussões sobre uma série de questões sobre expressões, técnicas de uso do corpo entre ritual, performance, dança e, no caso da Capoeira, esporte. Além disso, nota-se debates sobre as origens africanas destes bens culturais gerando conflitos entre versões sobre africanidades. Ainda, em alguns casos, apresentaram questionamentos sobre a partir de qual categoria essas expressões deveriam ser reconhecidas como patrimônio, afro-brasileiras ou brasileiras. Essa tentativa de reforçar as origens e vinculações da Capoeira, do Tambor de Crioula e do Jongo com percepções específicas do continente africano, em certa medida, o simplifica, deixando de lado a diversidade cultural presente na região. Nesse sentido, buscamos pensar como são elaboradas discursivamente percepções sobre África no processo de patrimonialização destes bens, bem como nos desdobramentos desta ação. Para além dessa questão, nesses processos existe uma série de disputas e, também nessa busca por uma ancestralidade e raiz africanas não há consenso, levando a um conjunto de conformações narrativas distintas com o objetivo de justificativa para as patrimonializações.
Patrimonialização de práticas corporais no Brasil: leituras de “África” e discursos sobre autenticidade
Vivian Fonseca