A Rede de Estudos Africanos reúne investigadoras e investigadores procedentes, baseados ou relacionados com centros ou grupos de investigação da Península Ibérica que se dedicam às sociedades africanas. Sua intenção é promover sinergias e colaborações nas áreas de pesquisa, ensino e de transferência de conhecimento.

Tipo de entidade

A rede é única no seu género na Península Ibérica, mas é comparável a outras redes africanistas transnacionais de maior dimensão, como a AEGIS, a rede europeia de estudos africanos. A originalidade é que a rede parte de um âmbito cultural diferente, o ibérico, constituído pelas histórias inevitavelmente entrelaçadas dos povos dos Estados português e espanhol. Esta singularidade deseja ser particularmente frutífera na reflexão pós-colonial, a partir da experiência única das colónias de duas ditaduras diferentes, e do facto de que a exploração e o equilíbrio das sinergias globais com África se articulam desde a periferia do centro e não do seu coração, transbordando em muito a ligação colonial.

Antecedentes

A criação de uma rede ibérica de estudos africanos é um horizonte que foi amadurecendo após a queda quase simultânea do franquismo e do salazarismo, tão semelhantes e tão distanciados em tantos domínios. Na década de oitenta, as colaborações individuais no domínio dos estudos africanos multiplicaram-se, até que um dos seus eixos, aquele definido sobretudo por Isabel Castro Henriques, acompanhada por Eduardo Costa Dias e por Ferran Iniesta, deu origem ao Congresso Ibérico de Estudos Africanos, cuja primeira edição data de 1991. O congresso estimulou a cooperação e o intercâmbio, criando um novo fórum científico. Com a sua consolidação, houve diversas tentativas de formalizar, em certa medida, o fórum em uma rede. Estas acabaram por culminar na incumbência de instituir uma futura rede, que o congresso de Granada, em 2018, entregou aos organizadores do encontro seguinte, e que se traduziu no compromisso de Lisboa, em 2022, depois do parêntese provocado pela COVID-19. A resolução da assembleia durante o último encontro estabeleceu o Congresso de Barcelona (CIEA 12, janeiro de 2025) como atividade inaugural da nova rede, bem como sancionou a constituição de uma comissão instaladora, articulada com a organização do CIEA 12.

Objetivos

O objetivo principal da rede é criar um fluxo multidirecional contínuo e seguro de informação, assim como sinergias e colaborações entre as equipas de estudo, sobre África, dos Estados espanhol e português, junto com os seus respectivos parceiros e parceiras.
As colaborações deverão establecer-se, maioritariamente entre polos universitários e similares – convidados a convergir com outros atores através de projetos concretos – e serão implementadas nas três funções universitárias: investigação, docência e transferência de conhecimento (incluindo aplicação, sensibilização e incidência).
Um objetivo secundário será promover um aumento relevante da presença das academias africanas no ambiente científico ibérico.

Missão e valores

A rede é uma estrutura aberta e dinâmica dedicada à produção e transmissão de conhecimento científico sobre as sociedades africanas. Não tem, portanto, outro programa senão a adesão ao modelo científico a partir do compromisso com o bem-estar das populações, particularmente africanas, e da consciência da pluralidade cultural do mundo global, e em particular de África, das suas singularidades, criatividade e ensinamentos. Ou seja, do respeito e da articulação a todas as formas coletivas de conhecimento que, por serem necessárias e complementares, devem manter sua autonomia na interação entre si.

Os estudos africanos são uma categoria muito atual. Quando os estudos sobre a área tendiam ser abandonados, o debate decolonial reposicionou a África, e a necessidade de estudá-la, no centro da construção de uma sociedade global diversificada. E, se faltarem motivos, o crescimento económico, demográfico e cultural africano (o maior do planeta) convertem o continente em um interlocutor global indispensável, mais ainda para a Península, que constitui uma das fronteiras europeias historicamente mais ativas com o continente.

Linhas de trabalho e investigação

A atividade central e fundacional da rede é o Congresso Ibérico de Estudos Africanos (CIEA), realizado em sedes distintas a cada dois anos, alternativamente nos estados portuguès e espanhol.

O congresso antecedeu a constituição da rede, e a ideia é que seja o motor inicial para a promoção de outras iniciativas dentro da rede: investigação, ensino ou transferência de conhecimento (incluindo a Cooperação Universitária para o Desenvolvimento). O primeiro passo será criar um espaço fluido para troca de informações sobre as atividades dos membros da rede.

Organização

A rede constitui-se como uma entidade sem fins lucrativos, composta por investigadoras e investigadores de centros e universidades. Terá início como uma entidade registada em Espanha e Portugal, com adesão voluntária através de quotas. A gestão da rede será assumida, de forma rotativa, pelo comité organizador de cada congresso.

Composição

A rede é constituída, fundamentalmente, por investigadoras e investigadores, em sua grande maioria vinculados a organismos públicos e organizados em centros e grupos situados na Península Ibérica; estes também poderão aderir à rede enquanto tal, sem necessidade de convénios. A composição é, portanto, principalmente académica, mas, através das suas atividades, em particular o Congresso Ibérico de Estudos Africanos, pretende-se abrir à sociedade civil e aos vários sectores que interagem com África, bem como aos parceiros e parceiras da África. A adesão à rede não exige qualquer filiação institucional, nem qualquer condição de nacionalidade.

Colaboradores e financiadores

A rede como tal propõe autofinanciar-se com um sistema inclusivo de quotas associado às inscrições no Congresso Ibérico de Estudos Africanos.

A inscrição será individual. A inscrição no congresso implicará automaticamente a adesão à rede durante o ano do congresso; também será considerada a adesão sem participação no congresso; a adesão à rede em anos sem congresso dará direito a um desconto no congresso seguinte.

Os eventos apoiados ou realizados pela rede serão financiados com projetos específicos, nos quais se identifidam as colaborações e patrocínios.