A arqueologia africanista, tal como outras disciplinas irmãs, apresenta uma contradição em si mesma: é simultaneamente um produto do colonialismo e um instrumento fundamental para o seu desmantelamento epistemológico. Por um lado, é inegável que as origens da arqueologia em África são nitidamente coloniais, tal como o foram durante muito tempo as suas metodologias, quadros teóricos e categorizações. Por outro lado, a arqueologia africana tem como objeto de estudo o continente com a mais longa cronologia de ocupação humana do planeta, um continente em que a contribuição escrita para a história é um fenómeno de generalização recente. Neste contexto, a arqueologia é a única disciplina que pode oferecer uma perspetiva com profundidade cronológica, constituindo o antídoto necessário para o presentismo que ainda satura uma grande parte dos estudos africanistas. Assim, nesta sessão pretendemos explorar tanto os avanços que têm sido feitos nas últimas décadas na descolonização da própria arqueologia (e as suas limitações), como os múltiplos contributos que o estudo do passado africano e a desconstrução do eurocentrismo histórico podem dar para a nossa compreensão do mundo atual e das suas perspectivas futuras.