Joseph Ki-Zerbo: Entre a Fé Católica e a Militância Anticolonialista em África

Mariana Gino

Nascido em 21 de julho de 1922, na aldeia de Toma, localizada no Noroeste do Alto Volta, atual Burkina Faso, que era então uma das colônias francesas da África Ocidental – é considerado um dos maiores intelectuais e historiadores africanos do século XX. Sua trajetória se desenvolve entre o ativismo acadêmico em prol da reescrita da História da África, os processos de colonização dos países africanos e as lutas pela libertação política. Ligado aos movimentos panafricanistas no pós-independência, sua trajetória dá o tom de boa parte dos trabalhos em âmbito acadêmico que buscam analisar o seu legado intelectual. Entretanto, as pistas e os rastros de sua luta anticolonial nos seios da Igreja Católica ainda são desconhecidos dentro da academia brasileira. Os silenciamentos históricos e os não-ditos sobre a sua relação com essa instituição religiosa contribuíram, de forma significativa, para a construção e a evidenciação de interpretações e narrativas monoculares, um rosto, por assim dizer, que não nos permite vislumbrar e compreender pontos significativos de sua formação intelectual. Extremante conectado com a trajetória de seu pai, o catequista Alfred Simon Diban Ki-Zerbo, considerado o primeiro convertido cristão do Alto Volta, e profundamente inserido nas ações políticas e sociais do chamado “Ano Africano” e pela Ação Católica, Ki-Zerbo buscou construir e conciliar as suas lutas políticas e intelectuais mesclando as influências e as referências que marcaram profundamente a sua trajetória. Destarte, a presente comunicação tem por objetivo analisar e evidenciar a trajetória intelectual do professor entre o seu ativismo leigo católico e as suas lutas contra os processos coloniais no continente africano, bem como evidenciar os contextos históricos que vivenciou e promoveu com a sua luta política contra os governos militares, direcionando o seu engajamento para uma educação descolonizada, voltada para os princípios tradicionais africanos.