Manuel Rui (n.1941) escreve sobre Luanda desde 1973, ainda Angola se encontrava na era colonial. Desde 1975, data da independência do País, através do registo da sua escrita, com mais de quarenta obras publicadas, perpassa uma visão refundadora e afirmativa das tradições nacionais e das culturas urbanas dos luandenses e de toda uma complexa relação entre eles. A fundamentação dos valores e hábitos locais e as transformações sócio urbanas e políticas são-nos apresentadas sob o signo do anticolonial, numa primeira fase, da afirmação independentista e nacionalista, numa segunda fase e, finalmente, numa perspetiva descolonial e universalizante, em que reinterpreta a história do colonialismo e desenvolve uma viagem descolonial atlântica e diaspórica angolana.
Trata-se de um autor da maior relevância pela sua introspeção analítica sobre as visões várias do mundo dos angolanos e sobretudo dos que vivem na capital, Luanda, e do modo como, tendo-se apropriado dalguma “herança” colonial, transculturaram os aportes histórico-culturais de tantas e díspares origens e os integraram numa nova perspectiva de descolonialidade e de universalidade, marcas de identidade africana das culturas urbanas dos angolanos.
Serão analisados os principais romances e novelas urbanos e descoloniais, como Regresso Adiado (1973), Memória de Mar (1980), Rioseco (1997), Quem me dera ser Onda (1998), Da Palma da Mão (1998), Saxofone e Metáfora (2001), Um anel na areia (2012), O manequim e o piano (2005), Estórias de conversa (2007), Travessia por Imagem (2012), Quitandeiras e Aviões (2013), A Trança (2013) e Kalunga (2018).
A cidade de Luanda: uma viagem urbana e descolonial, na obra de Manuel Rui
Luis Mascarenhas Gaivão