A política linguística colonial foi marcadamente hostil às línguas africanas, empurrando-as a domínios inferiores (como o círculo familiar e religioso), longe dos meandros oficiais, muito menos educacionais (Chimbutane, 2022; Ngunga, 2021). Decorrente deste cenário, tardiamente estas línguas foram introduzidas no ensino e desacreditada a sua participação no desenvolvimento tecnológico e científico. Todavia, gorado o sonho imperialista das potências colonizadoras, parece haver algum movimento de recondução dessas línguas aos domínios altos, sobretudo no campo da educação, entendido o seu papel crucial para o conhecimento das sociedades delas falantes (Bastos, 2018). É interesse desta comunicação, discutir os desafios e oportunidades emergentes do ensino de línguas africanas em contexto europeu, tendo como caso o emakhuwa (P31), em Portugal. A discussão baseia-se na experiência de prática docente desta unidade curricular na Faculdade de Letras da Universidade Lisboa. A abordagem metodológica assenta na Linguística pedagógica (Hudson, 2020), que ressalta a interação entre o conhecimento linguístico e a prática docente. Da experiência no ensino das línguas africanas em contexto europeu, a. a paridade estatutária entre as línguas europeias e africanas – tendo em atenção o estatuto que se lhes dá, os planos temáticos, as horas letivas e a remuneração dos seus docentes; e b. o desenvolvimento da consciência metalinguística em alunos e professor(es) – tendo em conta a análise de conteúdos relacionados com cores, números, doenças, entre outras – são dos desafios que nos impõem aflorar. Ademais, esta ocasião mostra-se oportuna para a internacionalização e modernização do manancial linguístico africano.
Desafios e oportunidades do ensino de línguas africanas em contexto europeu: o caso de Portugal
Francelino Wilson