Considerando os registos sonoros dos passados coloniais enquanto um objeto de estudo importante para pensar questões de poder, de conhecimento e de identidade, esta comunicação partilha a minha investigação em curso sobre coleções sonoras africanas gravadas nos anos 50 e 60 em diferentes territórios rurais de Angola. Estes arquivos foram produzidos durante a ocupação colonial portuguesa e contêm materiais sonoros diversos: línguas africanas (vocábulos e conversação), eventos festivos, contos e canções populares. Estas gravações foram realizadas quer no âmbito de missões antropológicas e etnomusicológicas, quer no seio de trabalhos de recolha feitos por funcionários coloniais e padres na então colónia.
Através de uma abordagem interdisciplinar que combina a antropologia, a história, a etnomusicologia, os estudos de som e a teoria pós-colonial, este estudo visa valorizar os registos sonoros que estes arquivos coloniais captaram. Estes arquivos continuam a ser, em grande parte, negligenciados a favor de outro tipo de fontes, como as visuais e as escritas. Nessa medida, torna-se importante aceder a estas fontes e analisá-las enquanto documentos históricos. Ao mesmo tempo, proponho uma pesquisa que integre a participação das comunidades africanas que estiveram na origem da produção destes materiais, ou seus descendentes. Em particular, através de uma pesquisa colaborativa e etnográfica capaz de envolver estes sujeitos na interpretação e divulgação dos materiais de arquivo de modo a incluir outras possibilidades de resignificação e memorização coletiva dos passados coloniais.
Sonoridades do arquivo colonial. Pesquisando coleções sonoras africanas gravadas durante o colonialismo português tardio em Angola.
Cristina Sá Valentim