20. A autocrítica da decolonialidade: desafios, limitações e perspectivas

Kamai Freire
UNESCO Chair on Transcultural Music Studies

Este painel se propõe a discutir o conceito de decolonialidade e suas implicações pragmáticas levando em conta sua relevância no contexto atual de globalização e neocolonialismo. Reconhecemos a contribuição valiosa da decolonialidade para a promoção da diversidade e o enfrentamento das heranças coloniais ainda pujantes nas instituições ocidentais. No entanto, também reconhecemos a necessidade de uma análise cuidadosa das limitações dessa abordagem e das eventuais despotencialidades que temos encontrado no caminho. Com base em revisão crítica da literatura, compartilhamento de processos e resultados de pesquisa, e relatos de experiências vivenciadas na área, abordaremos as diversas perspectivas sobre os impactos deste conceito nas sociedades e instituições africanas e como estas, por sua vez, têm impactado todo o planeta.

Nosso objetivo é promover um diálogo aberto e inclusivo, que reconheça tanto os avanços quanto as dificuldades na aplicação da ideia de decolonialidade. Através de uma abordagem colaborativa e respeitosa, esperamos identificar caminhos para uma implementação ainda mais eficaz e responsável da decolonialidade na prática acadêmica. Deste modo, buscamos contribuir para um entendimento mais profundo e mais complexificado das dinâmicas de poder e dos diversos vetores humanos dos diferentes elementos da engrenagem social que influenciam e são mutuamente influenciados pelas distintas perspectivas de descolonização.

É ainda muito cedo para pensarmos em uma autocrítica da decolonialidade? Seria já muito tarde? Como avaliamos as conquistas dos movimentos decoloniais dentro da academia? Quais são os impactos da decolonialidade acadêmica na sociedade? Como podemos aferir a eficácia deste processo de descolonização? A eficiência e velocidade da descolonização acompanha a intensidade e perversidade dos mecanismos de manutenção e sofisticação da exploração neocolonial? Como aferir a correlação de força entre esses dois vetores (decolonialidade versus neocolonialismo)? Como vencer as dificuldades e limitações da decolonialidade frente ao cenário estarrecedor de absoluta insustentabilidade global (mudanças climáticas, guerras, crises migratórias, limpeza étnica, etc.)? Dentre todas estas reflexões, quais particularidades competem à África em relação aos demais territórios afetados pelos mesmos problemas?

Pesquisador@s dispostos a responder algumas destas questões e outras reflexões desdobradas delas estão convidad@s a apresentar seus relatos, pontos de vista e reflexões neste painel. Para a inscrição não há requisitos pré-estabelecidos de disciplina, linha de pesquisa, grau acadêmico nem tempo de experiência. A proposta é justamente organizar o diálogo mais plural e frutífero possível.

Bibliografia

Agawu, Kofi. Tonality as a Colonizing Force in Africa. 2016
Asante, M. K. Afrocentricity: The theory of social change. African American Images. 2003.
Fanon, Frantz. “French Intellectuals and Democrats and the Algerian Revolution”. Toward the African Revolution. 1954.
Mignolo, Walter. “Local Histories/Global Designs: Coloniality, Subaltern Knowledges, and Border Thinking”.
Grosfoguel, Ramón. “Decolonizing Post-Colonial Studies and Paradigms of Political-Economy: Transmodernity, Decolonial Thinking, and Global Coloniality”.