44. ÁFRICA E DIÁSPORA NO ATLÂNTICO SUL: ESCRAVIDÃO, EMANCIPAÇÃO E PÓS-ABOLIÇÃO (SÉCULOS XVIII-XX)

Iamara da Silva Viana
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Valéria Gomes Costa
Universidade Federal de Pernambuco
Jucara da Silva Barbosa de Mello
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

A partir da década de 1990, a Nova Historiografia da escravidão no Brasil, impulsionou os estudos sobre a África. O Atlântico negro, termo cunhado por Paul Gilroy foi tomado pelos intelectuais brasileiros(as) e de algures como uma categoria conceitual para pensar nos trânsitos, conexões e trocas entre o continente africano, as Américas e a Europa nos séculos de formação do comércio entre europeus e povos africanos, do tráfico transatlântico e da escravização na diáspora. Embora as pesquisas estejam mais voltadas às miragens do tráfico e da escravidão, nos últimos anos vem crescendo significativamente os trabalhos que reduziram a escala de observação na África, propriamente dita, sobremaneira, no que tange as questões mais contemporânea do pós-colonialismo e da decolonialidade. Por outro lado, os estudos da África que dialogam também com a diáspora, tem privilegiado o deslocamento do eixo da análise das construções europeias no período da modernidade, para focalizar as experiências das pessoas que cruzaram o Atlântico, viveram em suas margens litorâneas, formando e participando de comunidades, do comércio, da circulação de ideias, e experimentaram a escravidão, sejam como cativas, sejam libertas, sejam livres, sejam europeias, sejam americanas, sejam africanas, no período oitocentista. Não obstante, ousamos o alargamento do conceito de mundo atlântico para abarcar o pós-emancipação em perspectiva cronológica mais ampla, no intuito de dialogar com estudos que refletem sobre o Atlântico negro em temporalidades mais contemporâneas. Desta feita, o presente painel tem a pretensão de reunir estudos em período de longa duração, do século XVIII ao XX, pois almeja congregar pesquisadores(as) que vêm debruçando-se nos estudos sobre a África e a Diáspora, contemplando os fluxos e refluxos entre pessoas, ideias, culturas, religiosidades, comércios gestados tanto no período do tráfico atlântico, das escravidões africanas nas duas margens continentais (África-Américas), nas lutas pela liberdade, como nos tempos coloniais e pós-coloniais. Ademais, temos o intuito também de dialogar com inflexões metodológicas que privilegiam os campos da biografia e trajetória de vida, bem como as interfaces entre a história, a literatura, a cultura visual e os pressupostos culturais da decolonialidade. Nesse sentido, quais seriam as contribuições que as práticas religiosas, formatações culturais, transgressões, ressignificações, projetos de liberdade, negociações entre africanos, crioulos, livres de cor e não negros, podem trazer para ampliarmos as lentes sobre a estrutura das sociedades escravistas do Império Português, em particular no Brasil e nos países africanos que foram colonizados pelos lusitanos? Quais os campos de tensões, negociações e conflitos envolviam escravizados e senhores, africanos, crioulos e os indivíduos não negros? Que formas de organizações nos mundos do trabalho no pós Emancipação construíram-se como meio de sobrevivência não apenas econômica? Estas são algumas das inquietudes que fazem parte das preocupações a serem discutidas neste painel.

Bibliografia

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COSTA, Valéria Travessias no Atlântico negro: tráfico, trajetórias e diáspora (África-Brasil), séculos XVII-XIX. São Paulo: Selo Negro, 2023.
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FERREIRA, Roquinaldo. Cross-cultural exchange in the Atlantic World – Angola and Brazil during the era of the slave trade. Cambrige: Cambrige University Press, 2012.
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