7. Desporto e Lazer em África

Matheus Serva Pereira
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa)
Augusto Nascimento
Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa)

O painel “Desporto e Lazer em África” é uma iniciativa da “Rede Internacional Desporto e Lazer em África” (RIDLA), que se encontra em construção. A RIDLA reúne académicos e pessoas interessadas no aprofundamento e divulgação do conhecimento sobre as práticas desportivas e de lazer em África. Desde 2010, a RIDLA organizou sete congressos em Lisboa, Porto, Rio de Janeiro, Salvador e Maputo, procurando criar uma sólida partilha de documentação escrita e iconográfica, testemunhos, reflexões e trabalhos sobre o desporto e o lazer no continente africano.

Com o intuito de consolidar o campo a que a RIDLA se dedica, o presente painel tem como objetivo promover reflexões, por meio da troca de experiências e investigações nas diferentes áreas dos Estudos Africanos, sobre as múltiplas manifestações e implicações das práticas de lazer e desportivas no continente.

O painel acolherá comunicações que versem sobre as histórias e os sentidos políticos, sociais, culturais e outros dos fenómenos desportivos e do lazer na África, desde os fenômenos do desporto e do lazer mais populares e tradicionais aos mais urbanos e eruditos. Tais processos implicaram incorporação pelas populações africanas das várias linguagens de novas criações culturais, por meio das quais se reelaboraram os sentidos das vivências africanas e/ou universais, aspectos fundamentais para a análise das múltiplas facetas, frequentemente tortuosa, da modernidade construída no continente.

As investigações dedicadas às manifestações desportivas, de ócio e dos tempos livres, sobretudo de cariz histórico e delimitadas ao espaço dos países africanos de língua oficial portuguesa, até muito recentemente estiveram negligenciadas nos estudos referidos aos contextos coloniais e pós-coloniais (Melo e Bittencourt, 2010; Marzano e Nascimento, 2013; Nascimento, 2013).

Este campo de pesquisa tem crescido exponencial nos últimos quinze anos (Caderno de Estudos Africanos nº 26, 2/2013). Destacamos as diferentes abordagens que têm chamado a atenção para as múltiplas relações entre desporto, lazer, experiências africanas e projetos de modernidade, sobretudo ao discutirem temas como desportivização e usufruto do tempo (Bosslet, 2017), desporto e lazer integrados a cultura popular, lógicas mercadológicas e processos de expansão capitalista (Domingos, 2012 e 2021; Bittencourt, 2017), a relação de ambos os processos com fenômenos da disciplinarização dos espaços, dos corpos, do tempos, da exploração do trabalho africano (Nascimento, 2013; Melo, 2020; Pereira, 2020), assim como com os debates sobre identidades e a construção da nação e dos Estados africanos (Melo, 2017; Chambel, 2022) e os desafios políticos de práticas desportivas, culturais e do lazer em contextos nacionais africanos (Africana Studia nº 34, 2/2020; Africana Studia nº 36, 2/2021).

Nesse sentido, para este painel convida-se à submissão de propostas de comunicação respeitantes às seguintes temáticas:
– As múltiplas relações entre espaços de lazer, ideologias do ócio, desportivização das sociedades e projetos coloniais;
– Sociabilidades e resistências em tempos coloniais e pós-coloniais;
– Lazer, desporto e lógicas de consumos culturais;
– O campo do turismo em perspectiva histórica e/ou das ciências sociais;
– Contextos econômicos e sociais do desporto e do lazer na África: mercados e mundos do trabalho;
– Movimentos associativos em torno do desporto e do lazer em diferentes contextos históricos;
– Práticas de lazer e do desporto nos debates sobre identidades nacionais e disputas internacionais;
– Políticas de desporto e lazer nos países africanos.

Bibliografia

Africana Studia nº 34, 2/2020, Culturas populares e urbanas em África, Porto, CEAUP
Africana Studia nº 36, 2/2021, Desporto e poder em África, Porto, CEAUP
Bittencourt, Marcelo (2017). “O futebol nos musseques e nas empresas de Luanda (1950-1960)”. Análise Social, 52(225), 874–893.
Bosslet, Juliana (2017). “Lazer em Luanda: o controle do tempo livre dos trabalhadores e a manutenção da ordem colonial (1961-1975)”. Análise Social, 52, 225: 830-847.
Caderno de Estudos Africanos nº 26, 2/2013, Em torno das Práticas Desportivas em África, Lisboa, CEI – ISCTE-IUL.
Chambel, Magdalena Bialoborska. Dêxa puíta sócó(m)pé. Música em São Tomé e Príncipe do colonialismo à independência. Lisboa: Centro de História da Universidade de Lisboa, 2022.
Domingos, Nuno. Futebol e colonialismo: corpos e cultura popular em Moçambique. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2012.
Domingos, Nuno (Org.). Cultura Popular e Império: as lutas pela conquista do consumo cultural em Portugal e nas colónias. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2021.
Marzano, Andrea; Nascimento, Augusto (2013). “O esporte nos países africanos de língua portuguesa: um campo a desbravar”. Tempo, 17, 34: 53-68.
Melo, Victor Andrade de; Bittencourt, Marcelo (orgs.). Mais do que um jogo: o esporte e o continente africano. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010.
Melo, Victor Andrade de. (2017). “Para o bem da nação: usos políticos do desporto na Guiné portuguesa (1949-1961)”. Análise Social, 52, 225: 848–872.
Melo, Victor Andrade de Melo. Jogos de contrastes: O esporte na Guiné Portuguesa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2020
Melo, Victor; Bittencourt, Marcelo e Nascimento, Augusto (2018). “Sport and Colonialism in Lusophone Africa — An Introduction”. The International Journal of the History of Sport, 2018, 35, 4: 293–295.
Nascimento, Augusto… [et al.]. Esporte e lazer na África: novos olhares. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013.
Nascimento, Augusto. Desporto em vez de política no São Tomé e Príncipe colonial. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013.
Pereira, Matheus Serva. Grandiosos batuques: tensões, arranjos e experiências coloniais em Moçambique (1890-1940). Lisboa: Imprensa de História Contemporânea, 2020.

Crédito das imagens: Adiodato Gomes (mural em Maputo) e Augusto Nascimento (baliza em Maurícias).