Padre Dionísio de Faria Barreto: De Matamba a Portugal: o protagonismo do clero nativo no século XVII.

Edgleice Santos da Silva

Dionísio Faria Barreto, um padre africano que aparece com certa frequência na documentação sobre a história do Kongo e de Angola, segundo consta, era natural de Matamba. O eclesiástico foi um agente da Igreja Católica na região que teve uma grande circulação entre o “mundo” europeu e africano, tendo amiúde o seu papel como intérprete e emissário muito evidenciado. Após o período de uma “guerra injusta” deliberada pelo então governador de Luanda, Luiz Mendes de Vasconcellos (1617-1621), o seu sucessor João Correia de Souza (1621-1623) enviou Dionísio Faria Barreto junto a Manoel Dias a fim de negociar com o rei do Ndongo Ngola a Mbande a soltura de suas irmãs: Nzinga, Cambo e Quifunge e propor que o Ngola abraçasse o catolicismo, trazendo a paz e boas amizades que não se concretizou devido ao abandono do governador Correia de Souza do cargo. Vale destacar que o padre foi desprezado pelo Ngola por ser filho de uma escrava, elogiado pelo governador Fernão de Souza (1624-1630): “theologo de profissão, filho da terra, mas exemplar, e de boas partes, e foy já prouisor e vigario geral, e governador do bispado sendo bispo Dom Frey Manoel Baptista” (BAL 20 f.375 v). E apesar desta estima que o vigário gozava, foi preso e enviado em 1625 para Portugal pelo Padre Bento Ferraz, que foi um forte opositor do governador Fernão Souza. O que será que aconteceu com Dionísio Faria Barreto em Portugal? Qual teria sido o delito do padre? E como sua “raça” foi mobilizada na função sua função como mediador? A proposta desta apresentação é tirar o padre das notas de rodapé e colocá-lo como um possível protagonista deste clero nativo que foi primordial para as pretensões políticas, tanto das autoridades portuguesas como das autoridades autóctones.