Os contributos do estudo arqueológico para a compreensão da história das paisagens sacarinas de Cabo Verde.

Nireide Tavares

A arqueologia terrestre de Cabo Verde teve a sua génese e impulso nos trabalhos de revitalização patrimonial desenvolvidos nos edifícios monumentais da época colonial localizados na Ribeira Grande de Santiago, cidade classificada como Património Mundial pela Unesco, e a maioria dos estudos arqueológicos realizados no país, até ao momento têm seguido essa tendência. Da mesma forma, a história de Cabo Verde foi feita com base em documentos administrativos focalizados nas elites citadinas, por isso, verificam-se poucos estudos relacionados com a história das áreas rurais e do quotidiano das suas populações. Assim, existe uma premente necessidade de investigação dessas comunidades pouco documentadas, através de uma abordagem abrangente e multidisciplinar. Nesse quesito, a investigação arqueológica pode dar o seu contributo na compreensão dos seus aspetos singulares, que também fazem parte da história e da identidade cabo-verdiana.
Dentro dessa perspectiva, apresenta-se um caso de estudo de diversas características das comunidades rurais das ilhas agrícolas do arquipélago, a partir da temática da cana sacarina, uma planta exógena, que desde os primórdios do povoamento faz parte da flora do país, sendo intensamente cultivada e utilizada como matéria-prima numa agroindústria característica dessas áreas. Tendo como o pano de fundo o aprofundar do conhecimento acerca da arqueologia e da história de Cabo Verde, abre-se espaço para o estudo de novos contextos, o que contribui para o desenvolvimento de estratégias de salvaguarda destas memórias ancestrais, que correm o risco de perderem-se na paisagem, mas, que têm o seu valor patrimonial e identitário.