A educação formal como um projeto colonial civilizatório foi uma das estratégias principais de dominação dos povos levada a cabo pelos diferentes impérios. O império português, no entanto, investiu menos e mais tardiamente na educação nas suas colónias, mantendo um regime em que apenas uma elite muito circunscrita tinha acesso ao sistema de educação. A educação como instrumento de emancipação destes povos emergiu como uma das ideias mais importantes das lutas de libertação nos territórios colonizados por Portugal, em grande parte fruto desta história de exclusão da maioria da população destes territórios do acesso à educação formal, bem como de uma educação baseada em princípios civilizatórios e processos de assimilação. Vários intelectuais africanos, como Amílcar Cabral, Aquino de Bragança e Eduardo Mondlane, que participaram nestas lutas, identificaram a educação como uma das peças basilares do estabelecimento das fundações dos países independentes.
Em Timor-Leste, a educação constituiu-se uma área fundamental no período de descolonização (1974-1975) e, mais tarde, durante a resistência à ocupação Indonésia (1975-1999). Neste período, o governo e a sociedade moçambicanos destacaram-se pelo apoio que prestaram aos quadros timorenses da FRETILIN a viver no país, com relevo para a área da formação universitária, mas também pelo apoio político e económico à frente externa da resistência timorense. Este estudo, que consistiu na realização de entrevistas em Díli, Maputo e Lisboa, e na consulta de arquivos em Moçambique, reconstituiu uma parte desta história de solidariedades Sul-Sul. Os objetivos principais desta comunicação são resgatar a história da solidariedade entre os povos de Moçambique e Timor-Leste e compreender de que forma a circulação de pessoas e ideias entre lugares do Sul, potenciada pela solidariedade e apoio à educação, criou alianças para a emancipação social dos seus povos com vista a alcançar relações justas entre todos os seres humanos.