Os acervos de cordofones angolanos em instituições portuguesas e as características de sua catalogação

Lucas Campos Ramos

Existem registos de alguma investidura antropológica portuguesa sobre o território angolano desde a década de 1930 (PEREIRA, 1989). Nessa altura, o Ato Colonial afirmava ser “da essência orgânica da Nação Portuguesa” colonizar os territórios ultramarinos e civilizar as suas populações. Estes princípios foram, a seguir, incorporados na Constituição de 1933 e é nessa perspetiva, portanto, que se desenvolvem as primeiras missões antropológicas portuguesas em suas colónias.
Liderada pelo esforço de Mendes Correia, então diretor do Instituto de Antropologia da Universidade do Porto, uma espécie de antropologia colonial parecia estar muito interessada numa abordagem física, com pouco apreço por aspetos humanos e culturais. A escola do Porto viria a condicionar a “orientação do pensamento antropológico português por toda a primeira metade do século, quer essa antropologia se referisse ao perímetro continental, quer ela se reportasse aos territórios coloniais” (TRAVASSOS, 2020).
Essa situação só viria sofrer alguma alteração significativa a partir da década de 1950, sobretudo a partir da atuação do pesquisador Jorge Dias no Centro de Estudos de Etnologia do Ultramar. No entanto, mesmo com os esforços de Dias e outros subsequentes, a lógica colonial parece ainda estar expressivamente presente na estrutura de documentação e catalogação dos instrumentos musicais africanos.
Esta comunicação tem como objetivo refletir sobre o impacto do processo colonial nas estratégias de catalogação dos cordofones angolanos em Portugal, com base em pesquisa em 5 diferentes instituições museológicas. Além disso, o trabalho procura refletir sobre eventuais alternativas decoloniais de documentação destes documentos a partir da perspetiva da pesquisa de campo em Angola.