Memória, Identidade e Resistência: Diálogos Interseccionais nos contos Mary Benedita, de Conceição Evaristo e A historiadora Obstinada, de Chimamanda Ngozi Adichie

Letícia Moraes Marques
Daniel Conte

A arte literária produzida por mulheres afrodiaspóricas, como Conceição Evaristo e Chimamanda Ngozi Adichie, atravessa os campos da cultura e da memória ancestral africana, evidenciando a complexidade da experiência negra no mundo. Embora situadas em diferentes contextos geográficos, suas obras se entrecruzam na partilha de lutas e resistências comuns. Dessa forma, estudo analisa os diálogos entre os contos Mary Benedita, de Conceição Evaristo (2016), e A Historiadora Obstinada, de Chimamanda Ngozi Adichie (2017), sob a perspectiva da interseccionalidade e da escrevivência, visando destacar como a escrita de mulheres negras se constitui como uma ferramenta de resistência, afirmação identitária e união de vozes femininas. Em ambos os contos, a interseccionalidade e a escrevivência são fios condutores que se sobrepõem às personagens principais, revelando as diferentes formas de opressão que atravessam suas vivências, raça, gênero, classe e outras identidades sociais, que configuram a marginalização das mulheres negras. No contexto da realidade brasileira, Evaristo retrata o cotidiano das mulheres periféricas, enquanto Adichie lança um olhar para a diáspora africana e o impacto do colonialismo. Dessa forma, as autoras exploram as múltiplas camadas da identidade e da opressão, utilizando a escrita literária para forjar novas possibilidades de resistência. Para fundamentar a análise, utilizam-se os pressupostos teóricos de autoras que criticamente abordam a interseccionalidade, como Carla Akotirene (2020) e Kimberlé W. Crenshaw (2002), além de pensadoras do feminismo negro, como Patricia Hill Collins (2019), Angela Davis (2016) e bell hooks (2019). Também são considerados teóricos que discutem o devir-negro no mundo, como Achille Mbembe (2018), os estudos culturais de Homi K. Bhabha (2020), o pensamento anticolonial de Aimé Césaire (2008), os estudos da memória coletiva de Maurice Hallbawachs (2003) e a interpretação psicanalítica da questão racial, conforme proposta por Frantz Fanon (2020).