La comunicación tiene como punto de partida un proyecto de historia oral realizado en la comunidad afrodescendiente de Portobelo (Panamá). El texto analiza el rol de la cultura congo como un elemento aglutinador de la comunidad, que conecta el presente con el pasado ancestral. En tanto que patrimonio vivo, inmaterial y parte constitutiva de la memoria colectiva de los portobeleños y portobeleñas, la cultura congo se ha transmitido de modo oral e intergeneracional, en conexión con los restos arqueológicos que evocan el pasado colonial y esclavista. Tal y como apuntan muchos de los testimonios recogidos, esta cultura ha experimentando notables cambios en las últimas décadas, y más concretamente a partir de su reconocimiento como Patrimonio Cultural de la Humanidad en 2018. Entre ellos, destaca la espectacularización en relación con la industria turística, la incorporación del congo en el acervo de tradiciones panameñas y la búsqueda de una participación más igualitaria de hombres y de mujeres, siendo éste último un aspecto que ha llevado a tensionar de las estrictas pautas de género que acompañaban a muchas de las expresiones culturales tradicionalmente asociadas con el congo.
Os termos afrodescendência e afrodescendente ganham destaque como categorias que referenciam a pertença ao mundo afrodiaspórico contemporâneo no continente europeu e surgem associados a dinâmicas específicas de sujeitos políticos que exigem o reconhecimento dos efeitos sobre as identidades associadas à Europa e seu passado colonial. Em Portugal, o termo afrodescendente tem maior circulação no espaço público, porém, sem correspondência com um aprofundamento conceptual sistemático que apoie o debate mais amplo sobre a presença negra no país, as afrodiásporas e a sociedade portuguesa contemporânea.
Esta reflexão incide sobre a saliência atual da categoria identitária afrodescendente no espaço público e académico português e as possíveis correspondências com a emergência, de fato, de um novo coletivo que busca o seu estatuto na sociedade. Alguns achados de pesquisas recentes com artistas, ativistas e empreendedores culturais permitem interrogar se o uso indistinto do termo afrodescendente corresponde à lógica que pretende eleger uma categoria mais livre de discriminação racial e evitar os termos negro ou preto. Ou se se trata, afinal, da consolidação de uma autoidentificação que assinala a resistência de um grupo historicamente discriminado, contra um alinhamento institucional que mantém as estruturas que perpetuam o racismo e os seus modos de subjetivação.
Sob o aparente consenso, por exemplo, as definições que aproximam o afrodescendente ao imigrante permanente reforçam tanto a ideia de provisoriedade de uma existência pessoal e coletiva -forjadas, exclusivamente, em contexto português- como o pressuposto da discrepância entre traços africanos e pertença europeia. Ao contrário, os jovens nascidos em Portugal utilizam o termo para descrever uma pertença simultaneamente portuguesa e africana em que estas não se excluem mutuamente. As tendências e limites da categoria serão compreendidas com o apoio dos debates no campo dos Black Studies e as posturas analíticas críticas de Roger Brubaker aos estudos da identidade, etnia, raça e nacionalismo.
Tanto Angola como Moçambique têm um quadro legislativo que vai ao encontro das diretrizes mundiais sobre a igualdade de género e sobre a escolaridade universal. Contudo, a realidade escolar é reveladora da persistência da desigualdade de oportunidades entre rapazes e raparigas. Esta comunicação apresenta os resultados do projeto Marias Meninas (2023-2025), implementado pelas ONGs Helpo e FEC, com a parceria cientifica do CEI-IUL e financiamento do Camões IP. Os resultados provisórios baseiam-se numa recolha de dados contextualizados, em 5 escolas do Namibe (Angola) e de Nampula (Moçambique), em meio rural e meio urbano, com recurso à observação, entrevistas individuais e grupos focais de jovens, rapazes e raparigas, líderes locais, encarregados de educação, e outros elementos das comunidades. A temática incidiu sobre o acesso e o sucesso na escola. Os dados recolhidos permitem-nos identificar os fatores determinantes da profunda desigualdade de género existente, bem como do insucesso do sistema educativo: pobreza generalizada, violência social e doméstica, casamentos precoces, falta de qualidade dos sistemas educativos, elementos culturais. A segunda fase do projeto incide na identificação de medidas para minorar a situação de desigualdade de género e abandono precoce da escola, estratégias de sensibilização da opinião publica e recomendações sobre a inscrição desta problemática em políticas publicas de base local ( por exemplo ao nível das escolas), de base nacional (estratégias e planos de ação) e ao nível supranacional (doadores do setor da educação, agências internacionais)
Nesta comunicação, caracterizo como, durante o Estado Novo (1933-1974), o colonialismo português foi imaginado cinematograficamente pela propaganda da ditadura. Analiso sumariamente as representações impostas pelas actualidades e documentários de propaganda feitos por iniciativa estatal – como é que fixaram o proclamado “modo português de estar no mundo” – para, em contracampo, evidenciar olhares disruptivos em filmes proibidos – Catembe (Manuel Faria de Almeida, 1965) e Deixem-me ao menos Subir às Palmeiras… (Joaquim Lopes Barbosa, 1972). Quando emerge o Novo Cinema, quais as evidências da (im)possibilidade de constituir imaginários contestatários do memorial fílmico sedimentado pela propaganda? Se há temas e representações impostas e outras deixadas “fora de campo” pelo cinema de propaganda, de que modo é que isso também determinou também o cinema censurado? Não obstante, através de uma nova abordagem estética e sociológica, transversal ao Novo Cinema português, terem ido emergindo várias disrupturas nos filmes proibidos, persistiram certos modos de representação e de diferenciação social e de género. Apesar das rupturas do Novo Cinema, quais as persistências em termos de imaginário colonial? Entre as propostas de cinema descolonizador, integradas numa estética e ética do Terceiro Cinema, que se afirmou também a partir da Conferência Tricontinental que aconteceu em Havana, focarei os filmes e a poética de Sarah Maldoror, profundamente inspirada por Aimé Césaire, para sublinhar continuidades que ditaram a sua invisibilização como realizadora mesmo após as independências africanas.
A pesquisa pretende comparar o romance O mundo se despedaça, de Chinua Achebe (2009) e Essa gente (2019), capítulos 13 de dezembro de 2016, 23 de fevereiro de 2019 e 12 de maio de 2019, de Francisco Buarque de Holanda para analisar como a ideologia do colonizador português seduz e desorienta para construir e reconstruir novo paradigma de religião monoteísta e, assim, romper com o universo da ancestralidade das religiões de matrizes africanas tanto no Brasil atual como em dois anos antes da independência da Nigéria (África). Ressalta-se que marcas do ponto de vista ideológico e comunicativo da sociedade brasileira e nigeriana serão entendidas, enquanto elementos engendradores de concepções estéticas e singulares do sistema sígnico de comunicação que se reporta à memória cultural dos países. Serão usados como aporte teórico metodológico: Análise de Discurso a partir de Pêcheux e Orlandi, visando a compreender o jogo político, ideológico, histórico e social que se inscrevem nas formações discursiva e a Semiótica da Cultura, Yuri Lotman, por considerar que todo tipo de linguagem está envolto em contextos específicos de uma dada cultura, de acordo com o processo de semiose que transforma tudo em texto, resultando nos sentidos que circulam e interagem na produção literária dos autores em questão. É preciso pontuar que o estudo constituir-se-á em uma tentativa de apreender o interdiscurso presente nas configurações dos discursos e em suas relações. interpelação se configura ideologicamente pela inscrição de uma formação discursiva em que se produz o sujeito de direito na sociedade. Recorrendo à semiótica da cultura, pretende-se desvendar a cosmogonia brasileiro-nigeriana para entender as possíveis influências nos fatores socioculturais, adquiridas por meio da literatura que se tornam os mais representativos focos de resistência à imposição e à dominação política, econômica e social vigente.