Educação como instrumento de libertação e de solidariedade entre Moçambique e Timor-Leste

A educação formal como um projeto colonial civilizatório foi uma das estratégias principais de dominação dos povos levada a cabo pelos diferentes impérios. O império português, no entanto, investiu menos e mais tardiamente na educação nas suas colónias, mantendo um regime em que apenas uma elite muito circunscrita tinha acesso ao sistema de educação. A educação como instrumento de emancipação destes povos emergiu como uma das ideias mais importantes das lutas de libertação nos territórios colonizados por Portugal, em grande parte fruto desta história de exclusão da maioria da população destes territórios do acesso à educação formal, bem como de uma educação baseada em princípios civilizatórios e processos de assimilação. Vários intelectuais africanos, como Amílcar Cabral, Aquino de Bragança e Eduardo Mondlane, que participaram nestas lutas, identificaram a educação como uma das peças basilares do estabelecimento das fundações dos países independentes.

Em Timor-Leste, a educação constituiu-se uma área fundamental no período de descolonização (1974-1975) e, mais tarde, durante a resistência à ocupação Indonésia (1975-1999). Neste período, o governo e a sociedade moçambicanos destacaram-se pelo apoio que prestaram aos quadros timorenses da FRETILIN a viver no país, com relevo para a área da formação universitária, mas também pelo apoio político e económico à frente externa da resistência timorense. Este estudo, que consistiu na realização de entrevistas em Díli, Maputo e Lisboa, e na consulta de arquivos em Moçambique, reconstituiu uma parte desta história de solidariedades Sul-Sul. Os objetivos principais desta comunicação são resgatar a história da solidariedade entre os povos de Moçambique e Timor-Leste e compreender de que forma a circulação de pessoas e ideias entre lugares do Sul, potenciada pela solidariedade e apoio à educação, criou alianças para a emancipação social dos seus povos com vista a alcançar relações justas entre todos os seres humanos.

Afro futurism and the work of Nnedi Okorafor

In this paper I propose to discuss the work of Nigerian American author Nnedi Okorafor with a particular focus in the Binti Series (2015-2019), sci-fi narratives that "imagine a future" as per her own words.
I start by presenting some of the definitions of Afro-futurism in art, history, culture and knowledge dissemination, paying particular attention to the movements pertaining to the African diaspora.
The first part presents Mike Dery's definition of Afrofuturism (1993) namely as he delves into the legacy of authors like Samuel R. Delany and Octavia Butler.
These introductory references will work as the framing for the analysis of Okorafor's novellas which deconstruct conventional narrative models and character representation whilst showing a direct connection with the discussions on postcolonial challenges and women's emancipation. Technology, spirituality, resistance and ecology come together amid multispecies interactions and the reading of the weight of cultural conventions and collective history in deep connection with the Himba women from southern Africa.
Some other authors that will be considered in this paper are D. Crowley (1994); Ruy Duarte de Carvalho (2004); Michael Bollig (2009); Ytasha Womack (2013).

A literatura no espaço linguístico-cultural: o contributo para a edificação da Lusofonia

Pretendemos refletir sobre o papel da literatura lusófona na construção da ligação entre os países da Lusofonia, tomando como exemplos obras de autores angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos.
A África lusófona, no pós-independência, é marcada por rumos distintos, em que o português não se privou do contributo da unidade nacional e diálogo internacional, que também se edificou com a herança de ligações a diferentes geografias lusófonas.
Com os exemplos de Eduardo White (Janela para Oriente e Dormir com Deus e um Navio na Língua), Mia Couto (“Miudádivas, Pensatempos”), Ondjaki (Os Transparentes), José Eduardo Agualusa (Rainha Ginga) e Henrique Teixeira de Sousa (Entre Duas Bandeiras), propomos pensar o português na literatura numa perspetiva lusófona, ou seja, dos falantes da língua de Luso, pois referimo-nos a uma língua de milhões de pessoas, de diferentes origens étnico-culturais.
Pela inerência da pluralidade, tolerância, desenvolvimento e paz, o português, marca da(s) lusofonia(s) e também língua africana, é um importante veículo de comunicação e reunião de populações intra e extramuros, pelo facto “de ela [a língua portuguesa] hoje ser um património comum a mais de 240 milhões de falantes espalhados pelos quatro cantos do mundo como um potencial de desenvolvimento, de crescimento, de aproximação, de partilha, de paz e de cooperação” (Veloso, 2020: 156).
Não será um acaso o sentimento de ligação entre brasileiros, cabo-verdianos, são-tomenses, guineenses, angolanos, moçambicanos, timorenses e portugueses. Um diálogo irmão que faz com que os lusófonos possam, oficiosamente, pertencer a uma grande comunidade, cujos elos se estabelecem "mais além" do que a partilha da língua. Na nossa ótica, a literatura insere-se nesse “mais além”, onde é um contributo considerado, porque “[o] futuro da língua portuguesa também vai depender da sua capacidade de rentabilizar o valor da sua extensão geográfica e o seu lugar na vida moderna” (Oliveira, 2020: 64).

Challenging the academic knowledge of

European Studies as a mainstream field needs evaluation of how it is structured, and
what ontological, epistemological, and methodological approaches it takes. Through a theoretical
framework consolidated mainly by Spivak and Said with a post-colonial lens on the European
Studies Program, where it uses positional superiority, Subject-Constitution, and Object-Formation concepts, theorizing “The Other” using anthropological writings and psychoanalysis,
and use destructive representation to investigate the positionlity of “The Other” or its effective
absence, this dissertation investigates and analyzes four core courses of the European Studies Program
at Malmö University to address the knowledge about, and the representation of, “The Other”
within the program’s curriculum. It concludes that because of its origin as a field of study and the
the dominant group that reproduces the knowledge about it, “The Other” is better measured through
its effective absence, even if it has always been present. It further questions the knowledge
production about and from “The Jungle” and how a serious shift is possible; this shift does not
start by recognizing the absence, but rather, as a first step, by the will to acknowledge it

« Que chacun prie pour le pays », la mobilisation des acteurs religieux dans le soutien à la transition militaire au Niger

Depuis le 26 juillet 2023, le Niger fait face à une crise politico-militaire qui a bouleversé l’ordre constitutionnel. Le parti PNDS, au pouvoir depuis avril 2011, fut renversé par un groupe de militaires. Parmi les interventions phares des nouvelles autorités on note la dénonciation des accords militaires qui lient le Niger à la France, l’ancienne puissance coloniale. Les militaires appellent par la même occasion la population à un « sursaut » patriotique afin d’atteindre « l’indépendance totale » du pays. Ce contexte a suscité la mobilisation des leaders religieux (salafistes, pentecôtistes et fidèles des religions du terroir) qui tentent de jouer leur partition à travers diverses actions (meeting, prières collectives, invocations, incantations, séances de prêche, …). Les interventions des minorités, notamment les fidèles des religions du terroir, ont suscité la réaction des fidèles musulmans qui voient d’un mauvais œil le « réveil » de ces minorités qui tentent de s’affirmer dans un champ à dominance musulmane. Cette communication interroge, d’une part, les perceptions de la crise que traverse le pays par ces trois acteurs religieux et d’autre part, leurs projets en soutenant les militaires au pouvoir. A partir d’une analyse des données primaires et secondaires, elle vise à rendre compte du rôle des acteurs religieux en contexte de crise. Ainsi tente-t-elle de répondre aux interrogations suivantes : Comment interagissent ces trois groupes d’acteurs dans « l’accompagnement » des militaires au pouvoir ? L’intervention de ces acteurs ne traduit-elle pas une volonté de changement quant à la place de la religion dans l’Etat ? Comment les militaires gèrent-ils l’implication de ces acteurs ?