Do Atlântico para o Indo-Pacífico: a CPLP como mecanismo de projeção estratégica portuguesa

O século XXI demarca-se dos demais por uma revalorização gradativa das extensões geopolíticas e geoestratégicas atribuídas aos mares e oceanos, registando-se um declínio relativo do Atlântico Norte em detrimento do Indo-Pacífico, onde um regionalismo emergente permite concentrar o debate sobre a segurança internacional entre os principais atores detentores dos convencionais indicadores agregados de poder. Deste modo, a fim de participar nos processos de tomada de decisão inerentes, Portugal deve garantir um maior envolvimento nacional nos espaços de diálogo multilaterais com inserção geopolítica regional, assumindo o continente africano particular preponderância para o efeito.
Neste sentido, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – da qual Portugal é membro-fundador – adquire especial destaque pela sua concertação político-diplomática e a sua afirmação estratégica no sistema internacional, sendo ainda constituída por alguns Estados cujas fronteiras abrangem a região referida (Moçambique e Timor-Leste). A sua importância geoestratégica é também reforçada pelo seu carácter multidisciplinar de intervenção e pelo acompanhamento feito por um conjunto de Estados asiáticos, que a frequentam sob o estatuto de membros observadores a fim de contribuírem para o objetivo geral comum de rentabilizar as sinergias resultantes da integração da organização em todos os blocos regionais, num contexto de mundialização.
Desta forma, a presente comunicação faz uso de uma abordagem qualitativa e recorre à análise documental de fontes primárias, secundárias e de imprensa, para demonstrar a potencialidade da CPLP enquanto mecanismo mediante o qual Portugal se poderá projetar estrategicamente para o Indo-Pacífico. Para tal, propõe-se o reforço da cooperação de Portugal no domínio da segurança e defesa da CPLP com dois dos Estados asiáticos que nela participam e que possuem fortes ligações lusófonas – o Japão e a Índia – contribuindo assim para os objetivos estratégicos da política externa portuguesa mediante uma componente que lhe é estruturante: a cooperação bi-multilateral.

DIÁSPORA CABO-VERDIANA EM PORTUGAL E NO BRASIL: ASPECTOS ANTIGOS E CONTEMPORÂNEOS SOBRE UM TEMA CONSTANTE

Esta comunicação contempla a temática da diáspora cabo-verdiana no Brasil e em Portugal sob a perspectiva da Linguística do Contato, da Crioulística e da Sociolinguística. Trata-se de um estudo exploratório que inaugura os estudos sobre a diáspora cabo-verdiana na Universidade de Brasília (UnB). Pretendemos dar a conhecer estudos em diversas áreas, via pesquisa digital e bibliográfica, em sites de universidades cabo-verdianas, portuguesas e brasileiras, em artigos, teses e dissertações que versem sobre o estado de coisas desse fenômeno do fluxo migratório constante de Cabo Verde para o mundo. Embora a diáspora seja determinante na vida dos cabo-verdianos, ainda há poucos estudos realizados por pesquisadores cabo-verdianos que vivem essa realidade em função do trabalho ou do estudo em outros países. Por isso, entendemos ser de extrema importância e urgência que pesquisadores cabo-verdianos elaborem questões sobre a diáspora que consigam atrair e conjugar olhares estrangeiros e naturais, bem como perspectivas de áreas multidisciplinares para ampliarem o entendimento a respeito dos aspectos históricos, sociais e políticos que fomentam a diáspora cabo-verdiana pelo mundo e os aspectos culturais e linguísticos que mantém os imigrantes unidos fora das ilhas. Nesse contexto, os objetivos centrais deste estudo são (1) explorar o fundo sócio-histórico motivador das migrações ou mobilidades para identificar quem são os emigrantes de Cabo Verde, qual a direção antiga e atual das emigrações, qual o valor social e a importância que esse movimento adquire dentro e fora das ilhas; (2) investigar como os caboverdianos, em Portugal e no Brasil, vivem, pensam e influenciam política, social e culturalmente o arquipélago, destacando o modo como retornam e qual sua relação com a identidade linguística e cultural crioula e (3) realizar um estudo comparativo entre a diáspora para Portugal e para o Brasil. As referências básicas para este trabalho, entre outros, serão Carreira (1972) e Duarte (2024).

A la búsqueda de un lugar posracial en “Hija del camino”

A mediados de la década del 2000 el término “afropolitanismo” entró en circulación de la mano de Taiye Selasi (2005) y de Achille Mbembe (2007). El prefijo afro apuntaba a un futuro posracial en el que el marcador de raza ocupase un segundo plano en la vida de los africanos y personas de ascendencia africana. ¿En qué medida es posible emplear este término en contextos hispanos? ¿Madrid puede ser un escenario afropolita? En esta comunicación, discutiremos la aplicabilidad de la noción de afropolitanismo al caso hispano-guineano a través de la novela Hija del camino (2019) de Lucía Asué Mbomío Rubio.

Esta novela presenta una historia de aprendizaje en el que Sandra, la protagonista, busca su lugar en el mundo. De padre de Guinea Ecuatorial y madre española, Sandra crece en la capital, Madrid, en los años 80, y descubre distintos aspectos que van a conformar su personalidad, atravesados por la intersección de raza, género y clase social. Las experiencias de discriminación racial le dificultan sentirse parte del país y este desgaste le impulsa a buscar otros lugares más amables, en África y Europa. Mientras que la búsqueda de un entorno apacible se inscribe en un marco cosmopolita, esta no se realiza en términos individuales, como ocurría en el Bildungsroman europeo de protagonista blanco, sino a través de la integración en formas de colectividad formadas por africanos o afrodescendientes en la diáspora que habitan ciudades multiculturales, anónimas, sobre todo posraciales, y que Sandra explora en Coimbra, Lyon, Bata y Londres.

La colonialidad de las palabras: el análisis res documentos estratégicos de la cooperación internacional para el desarrollo

Los documentos estratégicos que pautan los objetivos vinculados a la cooperación internacional para el desarrollo siguen proponiendo una visión de género hegemónico que no toma en cuenta la perspectiva descolonizadora. Además, en los documentos tomados en cuenta la digitalización se presenta como un elemento objeto de una simplificación excesiva que, en realidad, necesita ser complejizado y conectado a otros marcos y perspectivas.

Estas afirmaciones se basan en el análisis de tres diferentes documentos: Estrategia de Género en Desarrollo de la Cooperación Española (2007); Together Towards a Gender Equal Word. EU Gender Action Plan III. An Ambitious Agenda for Gender Equality and Women’s Empowerment in EU External Action (2021); y la AGENDA 2030 (2015).
Los tres documentos vienen formulados en ámbitos plurales: el primer ha sido elaborado en España, el segundo ha sido plasmado por parte de la Unión Europea mientras el tercer documento tiene un respiro amplio. De hecho, ha sido generado gracias al esfuerzo de numerosos países.

Para llevar a cabo las críticas a estos tres documentos, priorizando cómo abarcan el género y la digitalización, se usa la metodología del feminist close reading, que es un tipo de análisis literario que toma en cuenta elementos lingüísticos, lexicales, gramaticales. Esta metodología, usada por autoras postcoloniales y descoloniales, se basa en una lectura cercana, profunda y meticulosa de algunos pasajes de los documentos estratégicos previamente mencionados.

La discusión para llevar a cabo las criticas a estos tres documentos toman en cuenta las siguientes autoras: Lorde (2023), Rivera Garza (2020; 2021; 2021b; 2022), Rita Segato (2015), Cunha y Casimiro (2019), Breny Mendoza (2019), Djamila Ribeiro (2017), Angela Davis (2003), Soledad Vieitez y Roser Manzanera (2019).

Sonoridades do arquivo colonial. Pesquisando coleções sonoras africanas gravadas durante o colonialismo português tardio em Angola.

Considerando os registos sonoros dos passados coloniais enquanto um objeto de estudo importante para pensar questões de poder, de conhecimento e de identidade, esta comunicação partilha a minha investigação em curso sobre coleções sonoras africanas gravadas nos anos 50 e 60 em diferentes territórios rurais de Angola. Estes arquivos foram produzidos durante a ocupação colonial portuguesa e contêm materiais sonoros diversos: línguas africanas (vocábulos e conversação), eventos festivos, contos e canções populares. Estas gravações foram realizadas quer no âmbito de missões antropológicas e etnomusicológicas, quer no seio de trabalhos de recolha feitos por funcionários coloniais e padres na então colónia.
Através de uma abordagem interdisciplinar que combina a antropologia, a história, a etnomusicologia, os estudos de som e a teoria pós-colonial, este estudo visa valorizar os registos sonoros que estes arquivos coloniais captaram. Estes arquivos continuam a ser, em grande parte, negligenciados a favor de outro tipo de fontes, como as visuais e as escritas. Nessa medida, torna-se importante aceder a estas fontes e analisá-las enquanto documentos históricos. Ao mesmo tempo, proponho uma pesquisa que integre a participação das comunidades africanas que estiveram na origem da produção destes materiais, ou seus descendentes. Em particular, através de uma pesquisa colaborativa e etnográfica capaz de envolver estes sujeitos na interpretação e divulgação dos materiais de arquivo de modo a incluir outras possibilidades de resignificação e memorialização coletiva dos passados coloniais.