A água é elemento essencial e estratégico para a natureza e para as sociedades humanas, mas é também um recurso limitado. O seu uso tem repercussões sociais, políticas e económicas. A literatura e as estratégias contemporâneas de gestão urbana sugerem a adoção de modelos inclusivos e participativos em diversas fases da administração pública, visando garantir a eficiência, eficácia e transparência na gestão de recursos e serviços públicos. As políticas centralizadas e o modelo de gestão santomense divergem das diretrizes internacionais que promovem novos contextos sociais, mais descentralizados e participativos. Esta contribuição tem como objetivo examinar a eficácia e o impacto da participação pública na gestão dos recursos hídricos para a Ilha de São Tomé, com especial enfoque na Ribeira Afonso, no Distrito de Cantagalo, através de uma abordagem estruturada e multifacetada. Partindo do pressuposto que o conflito relacionado às crises climáticas e ambientais deve ser administrado produtivamente por meio do engajamento democrático, foram realizadas pesquisas bibliográficas e revisões exploratórias e integrativas sobre a governação participativa. A participação pública na gestão hídrica não só fortalece a administração dos recursos hídricos, mas também favorece uma abordagem mais inclusiva, transparente e sustentável, garantindo a segurança hídrica e contribuindo para o bem-estar das comunidades e para o equilíbrio ambiental.
Palavras-chaves: Participação Pública; Governança Participativa da Água, Ciência Cidadã; Gestão Hídrica, Ribeira Afonso
RECONHECIMENTO: Esta pesquisa é fundamentada no âmbito dos projetos RUN| Ríos Urbanos Naturalizados financiado por Cyted- Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (Contrato 420RT0008,https://cyted.org/es/run), ECS| European Citizen Science financiado pelo Horizon Europe Framework Programme for Research and Innovation (contrato nº 101058509)
Participatory Action Research (PAR) is a social science approach that challenges traditional modes of knowledge production by emphasising horizontal processes in research participation (Baum et al., 2006; Chevalier & Buckles, 2019). Grounded in the work of Paulo Freire (1970), this approach emphasises a participatory research process where community members are included as co-researchers (Lenette, 2022), aiming to solve problems (Chambers, 1997; Erdem et al., 2019) and bring change through action (Baum et al., 2006).
This study employs PAR methodology in a case study located in Arusha (Tanzania) in order to bring change to the way volunteer tourism projects are portrayed and promoted on social media. Specifically, the study addresses the exclusion of the receiving aid community from the dissemination of the volunteering project through the Instagram account managed by the volunteers. Therefore, the perspectives from the local community were not being taken into account, reproducing the notion of the voiceless subaltern (Spivak, 1988) and perpetuating colonial power dynamics by marginalising local voices in the dissemination of voluntourism phenomenon. A participatory methodological process was adopted, integrating two local community members into the research design and data analysis. Subsequently, a focus group was conducted (1) to explore the local community perspectives on the use of social media to promote the volunteer project and (2) to determine the narratives and images they sought to employ in representing their story.
Based on the focus group responses, a participatory audio-visual process was implemented, whereby community members curated photographs for the project’s Instagram account and collaboratively developed the accompanying narrative. This process contributed to a more equitable and inclusive knowledge production process, particularly in a postcolonial context. Additionally, this approach required the researcher to engage in a process of self-reflexivity, navigating her positionality as insider and outsider, as being both volunteer and researcher.
Las convocatorias de financiación para investigación han sido históricamente una de las vías que producen y reproducen desigualdades globales en el ámbito científico. Frecuentemente, estas convocatorias están dominadas por las agendas establecidas por los intereses económicos del Norte Global, limitando la participación y el acceso a financiación desde el Sur Global. Estas desigualdades se manifiestan en el predominio del liderazgo de instituciones del Norte Global, especialmente anglófonas, y la conformación de equipos de investigación que no reflejan la diversidad existente, perpetuando legados coloniales.
Para abordar estas desigualdades estructurales (o al menos no reproducirlas), la Fundación Anesvad ha diseñado convocatorias de financiación centradas en las Enfermedades Tropicales Desatendidas (ETD), así como en los determinantes sociales de la salud, integrando diferentes mecanismos en los criterios de presentación y evaluación que buscan corregir estos desequilibrios.
Uno de estos mecanismos es el fomento del liderazgo de las instituciones africanas y de los países endémicos. Esto fortalece los sistemas de salud y promueve la autonomía en la producción de conocimiento científico. Asimismo, se impulsa la creación de equipos multidisciplinares y la coordinación con los Programas Nacionales. Otro mecanismo clave es la inclusión activa de las poblaciones afectadas, que asegura que sus derechos sean considerados desde las fases iniciales de las investigaciones, promoviendo un enfoque más inclusivo. Además, se promueve la integración de la perspectiva de género, tanto en el diseño de las investigaciones como en la representatividad de mujeres investigadoras, grupo históricamente subrepresentado. Finalmente, estas convocatorias respaldan los principios de la Ciencia Abierta, promoviendo el acceso libre y universal al conocimiento generado.
La integración de estos mecanismos sitúa a las convocatorias de Anesvad como una alternativa transformadora frente a otras convocatorias de financiación, promoviendo una investigación más justa orientada a transformar las estructuras que perpetúan las desigualdades existentes, fomentando un ecosistema de investigación más equitativo.
No final do período colonial hispânico na América, começou um período turbulento para as nascentes nações independentes. Estas lutas entre o tradicional e o moderno não foram travadas apenas no espaço material, mas também -e especialmente aí- no espaço intelectual.
As elites dominantes uma identidade imaginária foi construída de acordo com suas necessidades. No caso da Argentina, este discurso tentou homogeneizar a sociedade, escondendo ou negando a presença de africanos e seus descendentes. No entanto, esses povos existiam e participavam da vida política, econômica e social da época. Essa presença foi relatada por viajantes que visitaram Buenos Aires durante o século XIX e que deixaram algum tipo de registro, seja ele literário ou pictórico, que serviu às classes dominantes, tanto políticas ou intelectuais, para cimentar a sua posição ideológica enraizada nesta “nova forma de olhar” o mundo que a Europa propõe. O eurocentrismo adquire dimensões científicas, descreve-se e cataloga-se o mundo, os seus seres vivos, incluindo aqueles “Outros”, que são o retardamento da modernidade.
Muitos desses viajantes deixaram registros visuais por meio de pinturas e desenhos que eles próprios fizeram de determinadas cenas, o que nos permite observar setores subalternizados, principalmente os afrodescendentes, em suas atividades cotidianas. Esses viajantes retratavam principalmente a sociedade que vivia nos centros urbanos mais importantes, como Buenos Aires. É por isso que neste trabalho nos concentramos nas narrativas e na iconografia deixadas pelos viajantes que visitaram Buenos Aires durante o século XIX, analisando como retratavam os africanos e seus descendentes.
Nossa intenção neste exposição é apontar que, apesar das diferenças e especificidades individuais, havia nesses viajantes um arcabouço ideológico comum que os levou a destacar determinados elementos que alimentaram o discurso oficial das classes dominantes locais.
A partir da História Social, apresento questões sobre práticas religiosas e de cura promovidas pela autodenominada “Irmandade das Almas”, agrupamento formado por africanos no sudeste brasileiro do pós-abolição imediato.
A pesquisa maior busca reconstituir a história e organização dessa “Irmandade” com base em fontes policiais do século XIX, que aludem a práticas de cura a partir do uso de diversos elementos presentes no “culto às almas”. Pretendo então apresentar alguns desses elementos, que venho analisando à luz dos estudos sobre expressões religiosas centro-africanas, considerando seus processos históricos de reinvenções contínuas, construídas a partir das interconexões culturais da diáspora e do contexto escravista. A dimensão religiosa parece então fecunda para abordar cosmologias e epistemologias africanas envolvidas no tráfico transatlântico, uma vez que é capaz de articular elementos profundos e estruturantes das experiências sociais desses povos.
Parto das proposições do historiador Robert Slenes sobre a formação, nas senzalas vale-paraibanas de meados do século XIX, de uma matriz cultural relacionada à identidade comum de vários grupos da África Centro-Ocidental. Uma das hipóteses relaciona as práticas mencionadas nas fontes com os cultos de aflição, essencialmente comunitários, de importante função ordenadora para africanos centro-ocidentais pois visavam restaurar a saúde social de seu grupo a partir da mediação de especialistas com forças espirituais, o que poderia envolver um trânsito entre o mundo dos vivos e o dos não vivos.
Assim, a menção das fontes a “raízes de muitas espécies”, “giz”, “tranças de cabelo”, “caramujos diversos traspassados de alfinetes”, “imagens grotescas de Santo Antonio” dentre outros, parecem nos situar num complexo cultural caracterizado por uma flexibilidade que incorpora novos símbolos e estratégias religiosas, para além do sincretismo ou conversão. Apontam para a multiplicação multifacetada de práticas culturais e religiosas que atestam também a inventividade e a plasticidade adquiridas durante a escravidão.