Entre o cuidado e a exploração: o trabalho de menores indígenas na Guiné Portuguesa (1900-1960)

Esta pesquisa analisa processos administrativos e processos judiciais relativos ao trabalho de menores indígenas na Guiné Portuguesa, entre os anos de 1900 e 1940. A análise das fontes demonstra que os menores indígenas foram bastante disputados por comerciantes, abastados e funcionários da administração colonial. A atuação das autoridades coloniais garantiu a distribuição dos menores aos tutores, a manutenção destas relações e a circulação dos menores para servir em outros territórios do império colonial e em Portugal. Os processos administrativos e judiciais de menores da Guiné Portuguesa permitem a compreensão da experiência destes indivíduos enquanto trabalhadores submetidos a relações cujos limites entre cuidados e exploração eram bastante borrados. Os estudos sobre a exploração do trabalho dos menores são ínfimos no contexto do Império português ainda que muitas pesquisas façam referências esparsas a menores trabalhando nas antigas colônias. A historiografia do trabalho deu maior enfoque à experiencia dos trabalhadores homens adultos durante o colonialismo português na África enquanto outros sujeitos históricos foram pouco considerados nas análises. As especificidades da exploração do trabalho de mulheres e menores são pouco discutidas ainda que estes grupos representassem uma parcela significativa dos trabalhadores. A partir dos processos administrativos e judiciais, é possível discutir elementos relativos à agência dos menores, uma vez que foi possível observar que os menores se utilizaram do sistema de justiça colonial para redefinir as suas condições de vida e trabalho. A análise da experiência dos menores também lança luz à exploração do trabalho no espaço doméstico, menos estudado que os espaços de plantação ou de mineração nos espaços coloniais. Além disto, esta pesquisa demonstra que a análise da experiência dos menores indígenas complexifica a compreensão das dinâmicas da exploração de trabalho no Império Português durante o século XX.

CÍRCULOS ARTÍSTICO DE COLONIALIDADE

Nos últimos 15 anos o movimento decolonial, dentro do mundo acadêmico e das artes, permitiu uma aparente virada epistemológica e estética relevante, mas também tornou evidentes os interesses políticos e econômicos por trás dela. Em âmbito acadêmico na Europa a discrepância nos investimentos destinados à investigação e à produção cultural determinou um movimento de captura aonde Berlim – como já foi Paris – suga violentamente a excelência do Sul do mundo, como fizeram as políticas do Banco Mundial na década de 1980, e aproveita em loco de todo o surplus de valor criado por estes cérebros. No mundo das artes o crescimento de interesse por artistas não brancos determinou inicialmente um “des-branqueamento” (De-Whitening) e agora a uma indigenização do mercado das artes já que, nunca como agora, são os artistas não brancos a influenciar os valores do mercado. Estas ‘curadorias’ frequentemente reproduzem procedimentos euro-centrados ao assumir que um artista é global apenas na medida em que é “descoberto” por um curador, e reconhecido por uma instituição, Europeia. Da mesma forma nota-se a reprodução de modalidade subalternas e exotizantes de tratar estes criativos. O filme Dibujo para no olvidar” de Fredi Casco e Fernando Allen produzido pela Fondation Cartier pour l’art contemporain, retrata artistas das comunidades Ishir, Guaraní e Nivaclé na região do Gran Chaco, Paraguai. Uma senhora sentada no meio da terra diz: "Eu pedi para..[um homem] de me ensinar a desenhar porque ele ganhava dinheiro. Ele não quis. Aprendi copiando, observando. Agora sou uma artista. Desenho porque paga minhas contas.” O que sempre foi feito espontaneamente se transformou em comércio, tudo que é cultura vira lucro, o que é sacro torna-se público. E' claro o valor implícito de autodeterminação e afirmação de identidade, mas como conjugar expectativas e entendimentos tão variados?

Percursos educativos de moçambicanos/as em Cuba, na Ilha da Juventude (1977-1990s): desafios das relações Sul-Sul

A construção do Moçambique independente, pós-1975, exigia a presença de quadros formados, num contexto em que a taxa de iliteracia rondava os 90%. Esta apresentação procura refletir sobre experiências extraordinárias que transformaram vidas de vários milhares de jovens de Moçambique que fizeram o ensino secundário na Ilha da Juventude em Cuba. As experiências vividas – sejam elas individuais ou coletivas – por estudantes e professores em Cuba – deixaram marcas na forma em como se pensa sobre si em relação aos outros, por outras palavras, a nossa identidade. Assente em pesquisa de arquivo, em entrevistas de carácter etnográfico esta apresentação procura sublinhar como o direito a uma educação de qualidade, envolvida com as experiências que que caracterizavam Moçambique, foi um dos vetores principais na construção inicial da moçambicanidade. Em paralelo, alerta para as implicações dos esforços usados para controlar o conteúdo educativa, ao submetê-lo a um projeto ideológico de construção da ‘nação’. Nesse sentido, as contradições identificadas neste desafio político, ensinam sobre a complexidade da formação do ‘Homem novo’, um dos objetivos deste novo projeto educativo.

El proyecto CAMP: Explorando la Arqueología del Pastoralismo Móvil en Regiones Áridas

Se presentará el proyecto recientemente iniciado "(Re)Constructing the Archaeology of Mobile Pastoralism: Bringing the Site Level into Long-Term Pastoral Narratives (CAMP)". Enfocado en explorar cómo las sociedades pastoriles desarrollaron estrategias sostenibles y resilientes en regiones áridas, CAMP integra enfoques de vanguardia de la etnoarqueología, arqueología, ciencias de la tierra, bioquímica, geografía y geoestadística. El proyecto adopta un enfoque complementario que combina la investigación etnoarqueológica de asentamientos pastoriles contemporáneos y abandonados con el estudio de sitios pastorales arqueológicos. A través de un mapeo topográfico detallado, muestreo espacial de sedimentos y caracterización química mediante fluorescencia de rayos X portátil, CAMP tiene como objetivo identificar marcadores antrópicos y desarrollar modelos interpretativos. Esta presentación ofrecerá una visión de las metodologías aplicadas, destacando el potencial del proyecto para mejorar nuestra comprensión del pastoralismo en tierras áridas.

DE CEMENTERIOS OLVIDADOS A ESPACIOS RECUPERADOS. LOS CEMENTERIOS MUSULMANES DURANTE Y DESPUÉS DE LA GUERRA CIVIL (1936-1939)

Como en toda contienda militar, los ejércitos despliegan significativos esfuerzos logísticos y, especialmente, en la atención a sus heridos y muertos en combate. La intervención de tropas coloniales marroquíes en el ejército franquista durante la Guerra Civil supuso desarrollar una red de hospitales militares que atendieron a los soldados musulmanes, y que se situarían aparte de los hospitales que atendían al resto de la tropa. Igualmente se habilitaron espacios para enterrar a los difuntos musulmanes, en parcelas adyacentes a los cementerios municipales. Los hospitales y cementerios se emplazaron a lo largo del avance del ejército franquista, desde Andalucía hasta el norte peninsular, rodeando Madrid hasta Zaragoza. Décadas más tarde, estos antiguos emplazamientos funerarios, a pesar de que algunos acabaron desapareciendo físicamente, fueron reivindicados por comunidades musulmanas locales para reabrirlos y dar servicio a las actuales necesidades funerarias de los musulmanes españoles.
El objetivo de esta ponencia es describir la organización de estos espacios funerarios durante la contienda, pero especialmente en el periodo inmediatamente posterior al final de esta, para mostrar el interés de las autoridades militares para localizar con exactitud el emplazamiento de las tumbas que fueron situadas en los cementerios municipales. Así lo indicaba un documento que consta en el Archivo General de la Administración, con fecha de marzo de 1940, en que se ordena inspeccionar todos los cementerios para localizar los difuntos musulmanes. La orden de la jefatura militar quería garantizar su estricta separación respecto los cadáveres cristianos. Una vez que los cementerios volvieron a ser gestionados por la Iglesia católica, ¿el ejército sólo quiso separar los difuntos, o pensó en exhumar a los difuntos musulmanes para agruparlos o, incluso, para repatriarlos a Marruecos?