A Descolonização e localização da Ajuda ao Desenvolvimento: As relações de poder entre ONG Nacionais e Internacionais na Guiné-Bissau

A presença das ONG’s na ajuda internacional ao desenvolvimento ganhou destaque com a ascensão do neoliberalismo na década de 1980. Inicialmente, a ajuda ao desenvolvimento era centralizada no Estado, através de programas setoriais (Sangreman, C., 2009). No entanto, o novo paradigma permitiu a participação de atores não estatais, destacando as ONG’s como intervenientes muitas vezes mais eficazes que os próprios Estados no apoio a populações vulneráveis (Maranga, M. K., 2010; Kane, M., 2013).
Apesar do seu papel reconhecido, a atuação das ONG’s internacionais em países em desenvolvimento tem sido alvo de críticas, principalmente por adotarem abordagens semelhantes às dos Estados. Nestas abordagens, as prioridades são frequentemente definidas por atores externos, em detrimento das prioridades das autoridades e organizações locais. As relações entre ONG’s nacionais e internacionais são marcadas por uma clara assimetria de poder, favorecendo as últimas. Este fenómeno é particularmente evidente em países vulneráveis e politicamente instáveis, como a Guiné-Bissau.
Recentemente, tem-se intensificado o debate sobre as relações de poder desiguais entre ONG’s internacionais e seus parceiros locais. Cresce a necessidade de promover abordagens de desenvolvimento mais enraizadas nos conhecimentos locais, dando maior protagonismo aos atores e organizações nacionais, com vista a tornar os programas de desenvolvimento mais direcionados e adaptados às realidades locais. Estes debates enquadram-se nas discussões em torno da descolonização e da localização da ajuda ao desenvolvimento.
Para promover mudanças significativas nas abordagens, as ONG’s internacionais apontam, sobretudo, a arquitetura da ajuda internacional como a principal barreira institucional à transformação (Banks, N. et al., 2024). Dada a relevância deste debate, torna-se crucial investigar as barreiras que impedem avanços na localização da ajuda, sendo a Guiné-Bissau o foco de estudo da investigação que estamos a desenvolver.

Cem anos do nascimento de Frantz Fanon: a atualidade de uma perspectiva afrodiaspórica e decolonial.

Esta comunicação tem o objetivo de revisitar algumas produções pós-coloniais que se dedicaram a investigação da criação do Complexo de Próspero por Octave Mannoni em sua obra Psychologie de la Colonisation. A abordagem considerará que o referido complexo se inspirou na peça A Tempestade de William Shakespeare e tomará por princípio a investigação realizada por Frantz Fanon no livro Pele Negra. Máscaras Brancas. Para tal, será estabelecida uma síntese da metáfora constituída por Mannoni para os personagens Próspero e Caliban, representantes do encontro entre o colonizador e o colonizado, respectivamente. Por conseguinte, ainda sob o viés de Mannoni, o referido encontro será cotejado com a perspectiva dos autores pós-coloniais propostos a fim de redimensionar os olhares sobre uma outra personagem, Sicorax. Por fim, a fonte de poder em disputa entre colonizador e colonizado será avaliada por meio de um último personagem, Ariel. Este último intuito visa considerar o legado e a atualidade da luta decolonial afrodiaspórica.

El Impacto de la Esclavitud Africana en el Alentejo, sur de Portugal.

La llegada de los europeos a la costa atlántica de África al sur del Sahara marca un hito significativo en la historia de ambos continentes. Este período anunció los primeros intercambios culturales, sociales, económicos y políticos sostenidos entre las sociedades europeas y africanas subsaharianas. La organización del comercio atlántico creó las condiciones para la difusión de productos africanos por todo el mundo atlántico, expresión del movimiento de africanos, principalmente esclavizados. El inicio del comercio transatlántico de esclavos se sintió particularmente en las regiones del sur del Reino de Portugal. La llegada de africanos esclavizados precipitó profundas transformaciones en diversas facetas de la vida en Alentejo. ¿Qué se puede discernir sobre las transformaciones sociales y ambientales catalizadas por estas llegadas africanas? ¿Estos hombre y mujeres carecían de importancia, o es posible identificar su influencia en el paisaje y el entorno cultural de Portugal, particularmente en la región del Alentejo?
A pesar de que aún no se han encontrado testimonios directos dejados por individuos esclavizados, su presencia en el Alentejo ha sido identificada a través de diversos vestigios. Entre ellos, se incluyen el impacto en la vida religiosa y socioeconómica y en la composición genética de la población local. Explorando enfoques interdisciplinarios, el proyecto de investigación "Ecologies of Freedom" está buscando otros rastros, como su impacto en los patrones de asentamiento, el uso de cultivares africanos o los cambios en las técnicas agrícolas. Esta presentación busca resaltar la importancia de reunir datos de diferentes fuentes para construir evidencias empíricas sólidas sobre el pasado, rescatando protagonistas, experiencias y conocimientos que han sido olvidados. A través de un enfoque cultural, es posible examinar los testimonios del pasado e intentar comprender cuál es el verdadero legado de estos movimientos forzados de personas en un pasado distante, que nos conecta hasta el presente.

Partos nas senzalas: nascimentos e cultura afrodescendente entre mulheres centro-africanas e descendentes escravizadas no Sudeste cafeeiro (1830-1888)

A partir de relatos de viajantes, de obras de memorialistas, de manuais de fazendeiros e de textos de autoria de médicos, o objetivo desta comunicação será delinear as vivências do parto entre mulheres africanas e suas descendentes, nas fazendas cafeeiras do Sudeste brasileiro ao longo do século XIX. Assim como as mulheres escravizadas nas propriedades rurais para exportação no Caribe e no sul dos Estados Unidos, nas fazendas cafeeiras do Vale do Paraíba e do Oeste Paulista, no Sudeste brasileiro, mulheres africanas, embarcadas majoritariamente nos portos congo-angolanos, e suas descendentes, enfrentaram a gravidez, o parto, a amamentação e a criação de suas filhas e filhos em meio às adversidades de um cotidiano marcado pelas violências da escravidão e pelas sobrecargas do trabalho nas lavouras para exportação e nas residências senhoriais. Nas médias e grandes fazendas cafeeiras, que reuniam entre 40 a mais de 200 pessoas cativas, mulheres centro-africanas e suas descendentes viveram o processo de nascimento de suas filhas e filhos nas senzalas, moradias dos escravizados, sob a assistência de parteiras de suas comunidades. Nesta comunicação, enfocaremos os conhecimentos e visões de mundo que conformaram as práticas nos partos entre africanas e descendentes nas fazendas, e os confrontos com a paulatina entrada dos médicos na cena dos nascimentos ao longo do século XIX.

Los saberes de los alfa. Genealogía y hermenéutica de las bases epistemológicas del pensamiento esotérico islamo-africano en las Américas

La comunicación estudia las bases epistemológicas, desde una perspectiva genealógica y hermenéutica, del esoterismo islámico en las Américas. Para ello, delimitamos el caso de estudio al islam practicado por los afrodescendientes provenientes de África Occidental durante los siglos XVIII y XIX. Llevados como esclavos, las diversas etnias portaron un marco epistemológico híbrido y transculturado fruto, a su vez, de siglos de recepción e importación de saberes en un contexto global que a día de hoy aún pervive. En el mundo islámico siempre se ha percibido el conocimiento esotérico (‘ilm al- bāṭin) como un elemento fundamental para poder lidiar con los asuntos mundanos (purificación, opresión política, etc.), pero también como una vía teúrgica (sīmiyā’) para alcanzar un conocimiento divino. En el contexto islamo-africano el alfa, el sabio versado en la sabiduría exotérica y esotérica, se enfrenta en una batalla espiritual al boko, al brujo extranjero, aún las tecnologías esotéricas usados por ambos sean idénticas. Y es que hay encuentros con las prácticas propias de sus etnias y la asimilación de diversos grados de saberes antiguos de diversa índole. Presentes en las prácticas espirituales de África Occidental y de inspiración afro en las Américas, la sabiduría esotérica islámica se constituyó como una fuerte opción intelectual y emancipadora frente al pensamiento de la modernidad y la subalternización de muchos afrodescendientes. De hecho, en los últimos años, trabajos como los de Liana Saif, Zachary Wright o Matthew Melvin-Koushki han comenzado a cambiar el paradigma de lo que entendemos por esoterismo islámico como espacio epistémico y ontológico legítimo y es desde ahí de donde queremos partir para realizar esta investigación. Así, exploraremos el contexto epistemológico, los procesos de transculturación y las principales tecnologías espirituales islámicas e islamicates, así como su impacto en las epistemes afrodescendientes.