15 de março 1961: um dia para não esquecer

O dia 15 de março de 1961 foi um dos mais violentos da história de Africa. Nesse dia, às 6 da manhã, começava a revolta cautelosamente preparada desde o exilio pela UPA (União dos Povos de Angola/Union des Peuples d’Angola) contra a ocupação portuguesa na colónia, revolta particularmente violenta no Norte, perto da fronteira com a jovem República do Congo. Muitos fazendeiros foram atacados e assassinados em simultâneo em várias partes do país, com machetes e armas de fogo muito rudimentares, pela JUPA, a temível “jeunesse” da UPA. A ação teve uma resposta repressiva brutal por parte dos portugueses. Era o início da luta de libertação/guerra anticolonial que ia durar 13 anos. Em 1962, a UPA, transformada em FNLA, criou um exército (ELNA) com uma base militar na República do Congo e o apoio de exércitos de vários países (entre os quais a Tunísia e a Argélia). A violência explodiu e ramificou-se. Com a declaração de independência em 1975 pelo partido MPLA (ideologicamente inimigo do FNLA), que se manteve no poder até hoje, a memória da UPA-FNLA, do seu exército e do seu papel na independência foi apagada. O dia 15 de março nem aparece em algumas historiografias oficiais, o que representa uma forma de violência estrutural por parte dos dirigentes contra uma grande parte do povo angolano. Nesta comunicação queremos salientar o papel dos atores e atoras que fizeram parte do 15 de março através de uma arqueologia da violência que se remontara às primeiras revoltas anticoloniais de 1913 e suas brutais repressões, mostrando continuidades entre a violência colonial e a atual repressão das memorias do evento.

De “candanga” a “brasiliense”: identidade e o(s) falar(es) de Brasília

Este trabalho discute os aspectos constitutivos, do ponto de vista sociolinguístico, de um falar dito “brasiliense”, com suas especificidades e heterogeneidades, abordando, ainda, do ponto de vista sócio-histórico, como a tecitura de identidades essencialmente brasileiras que compuseram, e continuam a compor, o pano de fundo dessa – possível – variedade em estágio de focalização (ANDRADE, 2010) do português brasileiro. Argumenta-se, ainda, que a constituição do Distrito Federal nos moldes como se dera carregou consigo máculas e, em paralelo, disputas que podem ser discutidas sob a égide da colonialidade e das Epistemologias do Sul (SANTOS, MENESES, 2010).
O monumento quadrilátero que tornou-se capital da maior nação da América do Sul fora habilmente lapidado por mãos múltiplas, diversas, brasileiras. O distrito, fenômeno urbanístico e social, tornou-se vertedouro para onde fluíram todos os rios semânticos, fonéticos e fonológicos da nação – e posterior nascedouro de um falar outro. Entretanto, tão múltiplo quadro não fora pintado com vernizes sóbrios. Houve altercações diversas, vivas nos relatos de candangos e no registro das primeiras Regiões Administrativas. Fora a partir de ativa luta, sangue e suor que fincaram pé no barro vermelho do planalto os trabalhadores, eles próprios, ergueram tal empreendimento. Distribuídos em diversas invasões, foram sistematicamente desalojados, expulsos e empurrados até uma “margem segura” da “Brasília planejada”, em centros e vilas.
Tal processo de constituição, que, em certo grau, replica uma dinâmica histórica do Sul global, imprimiu na dinâmica social do povo desse lugar fenômenos diversos, que evidenciam-se na cultura, memória e, também, língua. É nesse sentido que cabe observar avaliações e percepções (OUSHIRO, 2021) linguísticas do falar desse “povo do Planalto”, que possui sua identidade linguística, calcada em uma história múltipla ao passo que única que traz raízes ancestrais também vinculadas ao território africano.

Migración Senegal-Canarias: Securitización, Necropolítica y Resiliencia en el Contexto Transnacional

El fenómeno de la migración irregular desde Senegal a las Islas Canarias ha despertado un mayor interés académico en las últimas décadas, especialmente en el marco de la seguridad de las fronteras europeas y la implementación de políticas migratorias estrictas. Esta comunicación explora las intrincadas dinámicas que impulsan a las personas senegalesas a migrar a las Islas Canarias, haciendo hincapié en las formas en que las estrategias de control fronterizo y la necropolítica —conceptualizadas como la gobernanza de la vida y la muerte en las fronteras territoriales— informan las experiencias de los migrantes.

En particular, se abordará la reciente crisis de los cayucos, que ha intensificado la presión migratoria y expuesto las limitaciones de las políticas actuales. A través de un análisis de la literatura académica, de entrevistas y de una evaluación de datos cualitativos, examinaremos los factores que impulsan la migración desde Senegal a Canarias así los obstáculos que enfrentan y las tácticas de resiliencia que adoptan. Veremos las condiciones socioeconómicas y políticas que obligan a numerosos jóvenes a poner en peligro sus vidas a través de peligrosos viajes marítimos, junto con la influencia de las redes transnacionales que facilitan y mantienen estos patrones migratorios.

Asimismo, abordaremos la evolución de las rutas migratorias y la respuesta de los estados europeos, con un enfoque en el uso de tecnologías de vigilancia y acuerdos bilaterales para externalizar el control migratorio. Finalmente, la comunicación abordará la necesidad de políticas más humanitarias que reconozcan la agencia de los migrantes y promuevan soluciones sostenibles tanto en los países de origen como en los de destino.
Este análisis ofrecerá una contribución al debate sobre la migración irregular y la gestión fronteriza, ilustrando la relevancia de considerar los derechos humanos y las dimensiones éticas en el diseño de las políticas migratorias.

Da nascente à foz: fragilidades e desafios de ecossistemas de transição em São Tomé e Príncipe

São Tomé e Príncipe é um arquipélago da África Central localizado no Golfo da Guiné que, do ponto de vista climático, é influenciado pelo Equador. O clima, tropical húmido, associado ao solo de vulcânico de altitude confere características favoráveis à existência de cursos de água de dimensão e caudal diferenciados, que compõem uma rede hídrica densa face à pequena dimensão deste território insular. A população, urbana e rural, vive em estreita dependência dos rios, que garantem a subsistência orientada pelo consumo direto, a manutenção familiar e os modelos produtivos, sejam agrícolas ou energéticos, e económicos. A representação social, caracteristicamente tradicional e marcada pela ancestralidade que define as comunidades locais santomenses tem sido mantida com uma base utilitarista, resultando numa reprodução de práticas. O benefício que os rios revestem e a utilidade que deles se pode retirar são equacionados sem ponderação dos prejuízos que o uso não planeado promove.
Nesta comunicação são apresentados os resultados de um estudo centrado num conjunto de rios, ribeiras e cascatas da ilha de São Tomé, previamente identificados. Sendo centrais na vida comunitária, estes cursos de água sofrem de fragilidades decorrentes do uso não adequado e não planeado, favorecendo a poluição e a contaminação das águas. Sem uma adaptação de comportamentos e práticas comunitárias que promovam a preservação do ecossistema fluvial e a conservação da biodiversidade a perda de recursos tende ao agravamento. Dado que, na ilha de São Tomé, os rios são definidos como ecossistemas de transição entre o florestal e o marinho, com destaque para o mangal, a vulnerabilidade ambiental não é exclusiva afetando outros habitats e ameaçando a biodiversidade. Os desafios são múltiplos, presentes em projetos conjuntos de âmbito internacional, seguindo a metodologia de parceria com intervenção por proximidade, orientados para a Educação Ambiental complementada por ações de Educação para o Desenvolvimento.

NO VÃO DA MEMÓRIA: IDENTIDADE, DECOLONIALIDADE E ENSINO NO QUILOMBO REMANESCENTE KALUNGA/GO

O passado sociohistórico da formação do Brasil foi contado pelo viés colonial, fruto das grandes navegações lusitanas que aportaram no país e utilizaram os povos africanos como mão de obra em um dos maiores regimes escravocratas já existente. Nesse sentindo, esta apresentação busca demonstrar o contributo do continente africano, no que concerne à língua, à cultura e aos costumes, para a formação do Português do Brasil e da sociedade brasileira, buscando o devido reconhecimento identitário e valor deixados pelos povos originários. A pesquisa traz como enfoque o Quilombo Remanescente Kalunga, localizado na Chapada dos Veadeiros, no Estado de Goiás, a fim de elencar não somente os traços semicrioulizantes encontrados na Variedade Kalunga, mas também as percepções sentidas na comunicação com os falantes e como tem sido realizado o trabalho de autoestima linguística e social nas instituições escolares presentes nas comunidades de Vão de Almas e Vão do Moleque. Assim, pretende-se mostrar como o Quilombo tem resistido frente à perspectiva decolonial; o que tem se falado a respeito das variedades locais, da literatura e da influência africana em seus viveres; e como eles têm reagido e se percebido enquanto afrodescendentes e falantes de uma variedade que não é a preconizada pela gramática normativa da Língua Portuguesa. Faz-se necessário o fortalecimento da autopercepção dos kalungas como contribuintes da história do país e da formação da identidade brasileira – marcada pela resistência negra e sua cultura, sociedade, línguas e costumes.

Palavras-chave: África, Sociolinguística, Crioulística, Contato Linguístico, Semicrioulização, Identidade, Percepção e Decolonialidade.