Este estudo insere-se na perspectiva de analisar os processos de criação e de escrita da dramaturgia no teatro afro-brasileiro contemporâneo, como também as temáticas insurgentes que trazem para o centro da cena a cruel realidade em que vive o povo negro no presente e no passado da história do Brasil. Toma como ponto de partida o livro "Dramaturgia Negra" (Funarte, 2018), a primeira antologia publicada no Brasil em que são reunidos textos teatrais escritos exclusivamente por autores afro-brasileiros de todas as regiões do país, portanto um marco para a literatura dramática e para o teatro contemporâneo na América do Sul. Serão analisadas as formas de escrita e as inquietações dramatúrgicas nas dezesseis obras que compõem o livro, tecendo, assim, um verdadeiro panorama da dramaturgia contemporânea no Brasil.
Paul Ricoeur, em A memória, a história e o esquecimento, apresenta a fenomenologia da memória, estruturada com base naquilo que se tem lembrança e sobre quem incide a memória do que é narrado. Assim, pensar na memória é referir-se a um ato consciente e interativo, por meio do qual a perspectiva humana se relaciona às ações próprias e às redes afetivas que vão moldando a existência. É nessa perspectiva que se conduzirá este estudo, uma vez que se recorre ao signo literário para perceber as nuances que marcaram o surgimento de nações livres, as quais foram idealizadas pelos sujeitos históricos que colocaram em curso os projetos de nação. Neste trabalho, objetiva-se analisar a obra Biografia do Língua, do escritor caboverdiano Mário Lúcio de Sousa sob o viés da construção do espaço-tempo por meio das memórias da personagem Senhor Condenado. A personagem, um condenado de guerra, como último desejo antes da morte, tem seu pedido atendido: contar a história de Língua. A narração detalhada, em que as lacunas territoriais são preenchidas pelo ato de imaginar, integra a ideia de que, embora a narrativa traga ao centro de discussão o tempo vivido pela personagem Língua, são as memórias do narrador que projetam essa narrativa para um terceiro-tempo. Com isso, percorre-se o traçado rememorativo da personagem, a fim de evidenciar o entrecruzamento dessas memórias com a própria história da nação caboverdiana, sob a perspectiva do espaço ocupado. Lançar o olhar sobre essas histórias é inscrever uma nova visão de mundo, com vistas a uma compreensão intrínseca sobre aquilo que foi incorporado ao imaginário social. Ademais, as discussões sobre as questões de memória e identidade emergem por meio da confluência de vozes que habitam e dialogam com as raízes periféricas situadas naquilo que Bhabha chamará de entre-lugar, ou seja, na intersecção dessas dimensões.
Aquesta comunicació té com a objectiu reflexionar sobre el paper decisiu de les dones en el procés de pau a la Casamance, una regió profundament afectada per dècades de conflicte. La recerca que es presenta pretén aportar les vivències personals i associatives de diferents de diverses dones de la regió per il·lustrar l’impacte del conflicte en les seves vides i les contribucions que han fet des de les seves organitzacions i la seva quotidianitat a les negociacions de pau. Es pretén analitzar les accions col·lectives de les dones i com aquestes han estat fonamentals en el diàleg entre el MFDC (Moviment de Forces Democràtiques de la Casamance) i el govern senegalès. S’intentarà, a més, reflexionar sobre els mecanismes tradicionals que les dones han aplicat en la resolució de conflictes i com aquests han estat reconeguts i respectats per ambdues parts. L'objectiu es entendre i aprendre de la situació de les dones durant el període de conflicte, incloent-hi les dificultats diàries i les formes en què les dones han gestionat la violència i la pau en les seves comunitats. Aquest espai de diàleg forma part d'un esforç més ampli per documentar i visibilitzar la contribució de les dones en contextos de conflicte i pau, i per subratllar el seu lideratge en processos de reconstrucció social i comunitària.
O trabalho apresenta parte de uma investigação que pretende debater o papel e formas de representação negra nas narrativas literárias e sua relação com a Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER), a partir de uma abordagem crítica sobre os mitos e imaginários historicamente construídos no Brasil. A literatura negra, apesar dos desafios enfrentados pela herança colonial e pelo racismo estrutural, vem ganhando espaço no Brasil, especialmente após as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que institucionalizaram a ERER nas escolas brasileiras. No entanto, mesmo após 20 anos dessas conquistas, o avanço real na sala de aula ainda é incipiente. Assim cabe discutir como as narrativas literárias negras podem, simultaneamente, desafiar e fortalecer estereótipos e imaginários racistas, destacando exemplos de representações problemáticas que ainda prevalecem na literatura nacional brasileira. A partir de uma revisão bibliográfica, a análise reflete sobre o impacto da ausência ou exclusão da representatividade negra nos espaços literários e escolares, e o quanto isso molda a percepção de si entre os leitores negros. Embora haja avanços na produção e inclusão de narrativas afrocentradas no currículo escolar, é crucial que os educadores sejam capacitados para mediar essas histórias de forma crítica, evitando a reprodução de mitos que, mesmo quando “bem-intencionados”, perpetuam ideologias coloniais. Assim, a literatura negra emerge como uma ferramenta potente na luta antirracista, confrontando a hegemonia do pacto da branquitude e reconfigurando os espaços de representação na sociedade.
Após a derrota de países fascistas europeus na Segunda Guerra Mundial, houve um esforço de ressignificar as relações de dominação dos países metropolitanos com suas colônias. Em Portugal, o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala (1933), passou a ser visto por escritores ligados a Salazar como um intelectual capaz de legitimar tal dominação nas práticas reformistas do estado português em relação aos territórios de ultramar. A guinada da ideologização de positivação intitulada de “democracia racial” correspondia à busca de sentido à existência de um império num mundo pós-guerra que tinha como valor a democracia e a liberdade. Além do caráter transnacional das obras de Freyre como forma de legitimar o colonialismo tardio dos portugueses na África e na Ásia, essa nova forma de interpretação das relações entre o português e os colonizados passava diretamente pela ideologização produzida pelo estado ditatorial de Salazar. Nessa perspectiva, esta comunicação tem como objetivo geral argumentar que o lusotropicalismo, doutrina que influenciou profundamente a ideologia colonial portuguesa, esteve em correspondência com a ideia de democracia racial no Brasil, permitindo-nos refletir sobre os impactos derivados de sua obra na história escolar no Brasil, em Portugal e nas então Províncias do Ultramar. Como objetivo específico intentamos identificar, por meio da análise de documentação da Divisão Geral de Ensino do Ministério do Ultramar, possível influência do pensamento lusotropical no projeto de educação português relacionando a documentação sobre a formação de professores com a entrevista realizada pela pesquisadora Cláudia Castelo (2010) com o ex Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, personagem relevante para compreender a influência das ideias de Gilberto Freyre no meio acadêmico, a fim de contrastar os conceitos do sociólogo com exemplos apresentados nas fontes, revelando situações de resistência ao projeto educacional imposto pelo Estado português em fins de 1960 e início de 1970.