Com a intensificação da crise ecológica e da emergência climática, o romance "Chronicles from the Land of the Happiest People on Earth" (2021), de Wole Soyinka, emerge como uma reflexão crítica sobre a destruição ambiental e dos fios delicados que nos conectam e nos tornam humanos. Escrita durante a pandemia de COVID-19, a obra expõe a face mais perversa do capitalismo: quando os recursos da natureza já foram explorados ao máximo, os ricos se voltam para o que eles chamam de recursos “humanos”. Através da história do comércio de partes de corpos para rituais, o texto denuncia a fragilidade das instituições e a crescente violência e extremismo que assolam não somente o continente africano, mas todo o contexto global. Ao ficcionalizar essas questões, Soyinka nos convida a refletir sobre o impacto da política e das religiões de massa na vida das populações mais vulneráveis e sobre as consequências da violência institucional na construção de sociedades mais justas e equitativas. A narrativa não se restringe apenas ao "país das pessoas mais felizes", mas atravessa fronteiras africanas, circula brevemente pelos Estados Unidos e pela Europa ocidental, demonstrando a conexão do colonialismo e do neocolonialismo com a corrupção, a desinformação, desigualdades sociais extremas e a depredação ambiental. A sátira permeia todo o romance, porém, o pessimismo diante do futuro da humanidade é evidente. Proponho uma análise da obra partindo das perspectivas teóricas de Garrard (2006), Nixon (2011), Brugioni (2022), Said (2007), Hall (2016) e Soyinka (2005; 2006; 2012), para construir uma abordagem interseccional entre a ecocrítica, estudos pós-coloniais e o ativismo literário.
A crônica de um país despedaçado: uma leitura pós-colonial e ecocrítica de “Chronicles from the Land of the Happiest People on Earth” de Wole Soyinka
Karen de Andrade
Daniel Bobadilla