A sociedade guineense lida diariamente com três línguas com estatutos, hierarquias e utilizações desiguais: as línguas nacionais que são as línguas maternas da maioria da população; o Crioulo Guineense, de base lexical portuguesa que é a língua veicular; e o português que é a língua oficial (Scantamburlo, 1999; Benson, 2010; Martins, Gomes & Cá, 2016; Cá & Rubio, 2019).
Partindo dos dados recolhidos através de entrevistas semiestruturadas junto de professores de duas escolas primárias do meio rural da Guiné-Bissau e de especialistas em educação, pretendemos discutir quais as perceções de mudança que tanto a língua oficial como o crioulo estão a ter na sociedade, assim com a pertinência da língua de instrução e de ensino ser a língua portuguesa. A falta de recursos financeiros e de formação de professores, na área de línguas, limita a utilização dos recursos linguísticos dos contextos de sala de aula, e havendo, é resultado de esforços individuais de professores ou escolas e não, necessariamente, do sistema educativo (Benson, 2010).
Segundo alguns entrevistados, as mudanças podem ser vantajosas mas encontrarão muitas resistências a nível da vontade política, entre outros fatores. Por outro lado, para uma das entrevistadas tem a perceção de que há uma camada mais jovem que se está a apropriar do português de uma forma diferente das gerações passadas e que tal pode ser objeto de estudo mais aprofundado.

Crioulo guineense – os estatutos e a aprendizagem: perceções e desafios
Ana Poças